A adolescência é biologicamente um período em que estamos com os hormônios em ebulição e em que, naturalmente, tendemos a querer desafiar as regras impostas pelos nossos pais e pela sociedade. E por isso está no nosso imaginário a cena do adolescente mentindo aos pais para poder sair de casa e se encontrar com os amigos em uma festa para maiores de idade, ou para sair com o namorado ou com a namorada. Pelo menos era assim que costumava ser. Hoje as coisas tem mudado bastante, os jovens pertencentes às novas gerações preferem inventar desculpas aos amigos para passar as noites dos dias livres em casa. Essa situação já se reflete nos dados de atividades relacionadas à vida noturna.
Uma pesquisa realizada pela Berenberg Research em 2018 concluiu que as gerações mais jovens estão reduzindo os dados do consumo de álcool. Esse cenário começou a se desenhar com os millennials, definidos pelo Pew Research Center como “os primeiros a chegar à maioridade no novo milênio” (os nascidos entre 1981 e 1996). No entanto, são os membros da geração Z (nascidos a partir de 1997) que fazem a diferença. Atualmente, apenas 30,2% dos jovens entre 17 e 18 anos (no último ano do ensino médio) admitem consumir esse tipo de bebida, em comparação com os 54% que o faziam em 1991.
Além da redução no consumo de álcool, existe uma diminuição das atividades consideradas adultas entre os adolescentes desta nova geração. Segundo um estudo realizado pela Universidade de San Diego e pelo Bryan Mawe College, a nova juventude também opta por não dirigir e têm menos relações íntimas do que as gerações anteriores quando tinham a sua idade. Em geral, os membros da geração Z preferem ficar em casa a sair, aponta a pesquisa. E qual é a chave do seu entretenimento? As redes sociais.
Para Mercedes Bermejo, psicóloga infanto-juvenil e de família e membro do Colégio Oficial de Psicólogos de Madri (COPM), a tendência a buscar refúgio em casa com a tecnologia faz com que “os jovens estejam deixando de desenvolver as competências emocionais para se relacionar com os outros”. A especialista acrescenta que eles parecem ter perdido o interesse em expressar suas emoções ou ver como estão os outros: “Agora, se você está triste, você não comunica isso, simplesmente coloca um emoji com uma carinha”.
Ainda de acordo com a psicóloga, “há cada vez mais casos de adolescentes com tendência ao isolamento. (…)É o que se conhece como hikikomori, termo japonês que se refere aos jovens que se desconectam da realidade. Deixam de sair com os amigos, de praticar esportes e até de ir à escola”, continua a especialista, que indica que na Espanha “existem cerca de 200 casos”.
Bermejo esclarece que o problema não está no fato de não consumirem álcool –um hábito prejudicial à saúde– ou terem menos relações íntimas, mas nas consequências que esse isolamento acarreta à sua saúde mental. E os dados confirmam: doenças como a depressão estão crescendo entre os mais jovens. De acordo com a Pesquisa Nacional, 13% dos adolescentes entre 12 e 17 anos admitem ter tido ao menos um episódio depressivo naquele ano, em comparação com 8% em 2007.
“É importante que todos tomemos consciência da gravidade”, diz Bermejo, que acrescenta que se trata de um problema da comunidade como um todo e não apenas das famílias. Embora sejam os pais aqueles que podem detectá-lo: “Quando eles veem que os filhos passam mais tempo no virtual do que no real, quando não desfrutam de relações normais, quando começam a ter respostas hostis ou a negligenciar sua higiene”.
A solução passa por promover outros tipos de comportamento desde a infância. “Se, por exemplo, desde pequenos jogam futebol ou hóquei, é mais provável que na adolescência continuem mantendo relações com os outros membros de seu time. Também devemos tomar medidas de sensibilização, como palestras, conferências ou seminários, escolas de pais e atividades de lazer entre os jovens. Caso contrário, o isolamento pode acabar em doenças futuras”, conclui a especialista.
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Redação CONTI outra. Com informações de El País
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