Dar uma passeada pelos canais de TV e pelas redes sociais vem se tornando um ato de coragem. Coragem, porque o estômago revira, a gente não acredita no que vê, no que lê, no que ouve, tamanha é a violência que subjaz a muito do que se tem por ali. Parece que quase ninguém mais consegue discordar ou opinar sem ser agressivo, irônico, sarcástico, babaca.
As pessoas deixam de olhar para si mesmas e passam a enxergar o pior de tudo e de todos. O que marca cada passo, cada palavra, cada digitação é um ódio que escorre por todos os poros. Há um tipo de loucura generalizada, em que os limites se dissipam, os direitos se extinguem e os sentimentos se neutralizam sob uma saraivada de ataques verbais que não levam em consideração mais nada, nem ninguém.
Tem-se uma geração de mimados, que coloca o ego acima de tudo, que quer os seus desejos atendidos a todo e a qualquer custo. Querem que seu ponto de vista seja aceito, que suas ideias sejam aplaudidas, que sua comida esteja pronta agora. Exigem que a sua música toque, que seu político seja eleito, que seu amor seja correspondido. Sentem-se unanimidades. Que se danem os outros, ninguém tampouco os enxerga.
Infelizmente, essa falta de empatia é destruidora, pois quem não se coloca no lugar do outro torna-se incapaz de exercitar o amor, de nutrir o bem, de sonhar coletivamente, de perceber que o mundo vai muito além do próprio umbigo. Colocar-se prioritariamente acima de qualquer um, sem refletir sobre as consequências dos próprios atos nas vidas alheias é egoísmo, é destrutivo, é desumano. Amor próprio sem se perceber parte de um todo é egocentrismo puro.
Todo mundo tem suas escuridões. O problema é fundamentarmos nossos comportamentos por meio de ódio, tão somente ódio, porque a gente se esquece de que pessoas possuem sentimentos e então ferra com tudo. É assim que a vida desanda: quando tu não ouves mais o amor que tens dentro de ti.