Os caminhoneiros estão em greve. Faltam combustível e alimentos. Os serviços de saúde estão suspensos. Quem iria viajar no feriado, desistiu. Quem depende de transporte público, correios e remédios, está na mão. As escolas dispensaram seus alunos e os supermercados estão com o estoque no chão.
No meio dessa escassez e dificuldade, nos deparamos com histórias que assombram tanto pela grandeza quanto pela miséria de sentimentos. E percebemos que, nos momentos de crise, afloram o bem e o mal do ser humano. Aquilo que é mais baixo ou elevado dentro de cada um. Aquilo que revela quem somos de fato.
Carregamos a bondade e a maldade dentro de nós. Porém, são nossas escolhas que nos tornam nobres ou perversos. Podemos escolher agir com egoísmo, inveja e mesquinhez. Ou podemos optar pela solidariedade, generosidade e gentileza. Podemos decidir tumultuar ainda mais o caos, com nossa intolerância, ira, egocentrismo e individualismo; ou podemos preferir pacificar as circunstâncias com nossa empatia, camaradagem e caridade.
Pequenas atitudes, como ceder seu lugar na fila do combustível para quem está mais necessitado que você, ou não correr para os postos de gasolina se seu tanque ainda tem quantidade suficiente para mais alguns dias, lhe tornam uma pessoa mais consciente e honesta. E descobrimos que esperto não é aquele que “se garante” no momento, mas garante o bem comum em nome de um mundo mais justo e melhor.
Que tipo de país o cidadão quer para si e seus filhos, se num momento como esse remarca o preço dos combustíveis a níveis estratosféricos? Que tipo de sociedade o pai de família deseja para seus entes queridos, se faz estoque de álcool e gasolina sem necessidade na sua garagem? Com que tipo de planeta os jovens infratores sonham, se colocam fogo nas rodovias para assombrar e roubar os que ali precisam transitar? Que tipo de mundo nós mesmos queremos, se só sabemos apontar o dedo para o outro, mas não conseguimos perceber nosso egoísmo, comodismo e individualismo quando não oferecemos carona ao colega que mora no nosso bairro e pega condução; quando desperdiçamos água, energia e alimentos; quando deixamos o banheiro público sujo após usá-lo; quando não nos importamos com quem “vem depois” porque ninguém fará o mesmo por nós.
Quando você toca a vida do outro com doçura, empatia, gentileza e generosidade, acaricia a si mesmo. Seu espírito adquire suavidade, seu olhar transmite paz, sua respiração conquista serenidade e por dentro sua alma assobia canções há muito tempo esquecidas. Quando, ao contrário, você imagina a vida como uma corrida em que seu objetivo é chegar na frente, precisando se sair melhor que seus “concorrentes”, e desejando tornar todos menores que você, certamente o maior prejudicado será você mesmo. Ao tentar tirar vantagem sobre o outro, minando sua confiança, destruindo sua esperança e diminuindo suas chances, a vida se torna sombria, amarga e fatalmente prejudicial para você e para os que o seguirão.
A frase título desse texto é de Chico Xavier, e me encanta profundamente. Pois as pessoas não percebem, mas quando puxam o tapete de alguém, trapaceiam, são injustas, mesquinhas ou egoístas, o mundo as tratará da mesma forma _ se é que já não trata. Porém, quando se empenham em ser generosas, solidárias, honestas e empáticas, naturalmente sentirão os benefícios: a vida ficará mais leve, os sapatos apertarão menos, a culpa não sufocará tanto, e enfim perceberão que nosso caminho é consequência da forma como tocamos a vida uns dos outros: toque com intolerância e egoísmo, e terá rancor; toque com gentileza e generosidade, e frutificará amor…
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