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Morreu Zygmunt Bauman, o criador da “modernidade líquida”, criador de muito mais do que um conceito filosófico/sociológico.
Bauman foi uma das mentes mais brilhantes do século XX/XXI, a meu ver, e não por pura razão extrema em suas análises, mas, por ser um observador do comportamento humano sem abrir mão da composição sentimental que nos forma e por isso talvez tenha conseguido explicar e destrinchar conceitos e termos, em muitos momentos, inclusive, criando-os, dando um passo além do que a razão instrumental já não conseguia entender em um mundo confuso e confusamente percebido.
Certa vez, comentei com um amigo que se nós lêssemos mais Bauman, o mundo seria diferente, já que ninguém conseguiu enxergar tão profundamente o mundo que nos forma. Obviamente, existem muitos gênios que nesta quadra da história conseguiram mostrar profundamente a nossa sociedade.
No entanto, creio que Bauman foi além por sistematizar tudo isso, de forma teórica, pois não era um romancista, mas ao mesmo tempo tornando a sua leitura menos encaixotada, livre dos padrões acadêmicos, e aproximando-se dos leitores comuns, que se multiplicaram aos montes pelo mundo.
Não à toa, o sociólogo era tão querido e admirado, pois, além de ser um grande teórico do mundo contemporâneo, ele se preocupava em procurar transmitir as suas ideias a todos aqueles que a quisessem aprender. O pensar filosófico deveria estar presente em todos os indivíduos e, para que isso se tornasse possível, era imprescindível ter palavras e ideias que todos pudessem entender, uma vez que a maior parte da sociedade não é formada de acadêmicos, o que implica ainda mais a importância de se difundir o conhecimento filosófico e mostrar que todos são capazes de filosofar.
Todos são capazes e, diria mais, todos precisam, porque Bauman conseguia enxergar as grandes dores dos nossos tempos – ansiedade, depressão, indiferença, solidão, automatização, egoísmo, egocentrismo, exibicionismo, espetacularização da vida, fragilidade dos laços humanos – e entendia que se todos nós sofremos dessas coisas, cada um, sem exceção, precisava discutir essas problemáticas, procurar entende-las e buscar saídas.
Essa sensibilidade e esse compromisso em educar, mostrar o mundo para o mundo, fez-me um grande admirador de Bauman, o qual costumava chamar na minha informalidade de “velhinho sabido”. Ele é, sem dúvidas, o meu maior formador intelectual, mas também, sentimental, pois aprendi com os seus ensinamentos quão necessário é refletir sobre o mundo que nós vivemos, ainda que eu não veja as transformações, pois sou uma pequena gota no meio do oceano dos tempos e de que há em cada um a capacidade de “filosofar”, de refletir e, acima de tudo, de buscar caminhos possíveis para tanto caos, renovando a esperança de quem a perdeu.
Por isso, ele ainda conseguia ser poético, ao renovar essa luz a que os poetas dão o nome de esperança, demonstrando o seu lado humano no meio da razão.
Para o homem que inventou a modernidade líquida, deixo o meu adeus sólido, sabendo que ao chegar nas nuvens, ele se precipitará e retornará em chuva, molhando-nos e renovando em nossas mentes e corações a enorme sabedoria deixada em um legado brilhante. O meu sincero agradecimento ao “velhinho sabido”, um gênio, um poeta, e, sobretudo, um ser humano; pois, ativo até a sua morte, preocupou-se em transmitir para o “homem comum” as reflexões que pairavam na sua mente, já que, como ele próprio dizia, “Loucos são apenas os significados não compartilhados. A loucura não é loucura quando compartilhada”.
Em tempos escuros você foi um disseminador de luzes, de mentes que se abriram e almas que se tornaram mais sensíveis, de significados compartilhados e de significados que ainda serão espalhados. Adeus Zygmunt Bauman, adeus velhinho sabido.
Zygmunt Bauman
*19 de novembro de 1925
+ 9 de janeiro de 2017
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