Cada uma de nós carrega nas costas, ou dentro do peito, uma série de camadas que vão compondo nossas intersecções com o outro, com a vida, com a gente mesmo.
Certos tipos de pessoas – ou situações -, desde o primeiro contato, podem nos provocar sensações agradáveis, confortáveis e prazerosas; assim como, pode ocorrer o oposto, e nos sentirmos em alerta, incomodados e aflitos.
O que evoca o prazer em umas pode, na mesma medida, provocar a rejeição em outras; e essas reações vão depender do histórico emocional e afetivo de cada uma.
Há quem necessite do contato físico, tanto para dar quanto para receber afeto, em todas as esferas de relacionamentos. São mulheres que sentem um bem-estar ligado ao toque, gostam de abraçar, de acalentar, de acolher com afagos aqueles a quem querem bem. Para essas mulheres o conhecimento afetivo, veio a partir de experiências sensoriais relacionadas ao toque físico mesmo. Algumas vezes, trata-se da reprodução de um afeto recebido na infância, outras, inclusive, de um afeto que não se recebeu; e que se oferece ao outro, para resolver uma necessidade que foi negada.
Há outras mulheres que se caracterizam por um sentimento de desconforto em relação ao toque. Do ponto de vista físico, são mais cautelosas em partilhar contatos. Preferem manter alguma distância dos outros, evitam aproximações mais íntimas, até que se sintam suficientemente seguras para permitir a partilha de seu espaço. No caso dessas mulheres, o repertório afetivo também foi constituído a partir de experiências de troca. Assim como no outro caso, podem ter acontecido vivências que alimentaram a necessidade ou que criaram uma espécie de cautela ou mesmo medo e aversão em relação à aproximação, à permissão de sentir.
Há ainda, aquelas cujo prazer no toque venha diretamente relacionado a um processo de alfabetização sensorial que foi se constituindo bem devagarinho, de acordo com cada interação de afeto a que se foi exposta, em contatos positivos de partilha e aproximação. São mulheres que se sentem mais à vontade com a ideia de permitir ou barrar o outro, a depender de sua disposição emocional naquele momento. E essa disposição pode variar, a depender da forma como se estabelece o encontro.
E quem de nós haverá de não ter aquela parte do corpo que pede mais contato e afago, independente de estarmos envolvidos com o outro num clima de erotismo. Há pedaços de nós que são mais sensíveis, que fazem aflorar nossa memória afetiva, a ponto de nos desarmar e nos deixar mais disponíveis para iniciar uma nova conexão emocional ou avançar limites antes estabelecidos.
Da mesma forma, há partes de nós que não gostamos de expor, oferecer ou partilhar. E isso também diz respeito ao nosso acervo de estímulos sensitivos. Merece respeito. O nosso e o do outro. São nossos territórios ainda desabitados, muitas vezes desconhecidos até por nós mesmas.
Nossa inteligência emocional registra essas sensações e as vai configurando para fora de nós. Vamos projetando hologramas afetivos – caso sejamos capazes de nos permitir -, e essas projeções vão atraindo para o nosso convívio, aqueles cuja energia esteja também constituída para vibrar na nossa mesma vibração, para nos complementar naquilo que ainda não conseguimos vibrar, ou para nos chacoalhar numa sensação para a qual ainda não havíamos despertado.
Se vamos ficar e pagar para ver; se vamos estabelecer limites claros e manter o contato; ou se vamos fugir… Isso vai depender do que estiver mais aflorado: nosso instinto de autopreservação ou nosso espírito de aventura.
O fato é que, independente do nosso histórico sensorial, sejamos nós mais dadas a abraços, beijos, afagos e carícias ou não… ainda é pelo afeto que a nossa libido é desperta. Somos seres evoluídos demais para que nos entreguemos a um outro alguém cujo interesse não ultrapasse a profundidade rasa de uma esfregação de corpos que só aplaca urgências.
Queremos algo além dessa óbvia manifestação física de interesse animal. afinal, a nossa linda e cheirosa cabecinha pensa. E pensa muito. O suficiente para ter aprendido a detectar um homem de verdade de um macho alfa fake.
Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “Amor a toda prova”.