Lembro do tempo em que eu costumava investir todas minhas energias idealizando meu futuro. Eu começava o dia torcendo para que ele acabasse logo, só assim eu poderia descansar. Passava a semana esperando pelo domingo, só assim eu poderia dormir até mais tarde.
Passava o ano sonhando com as férias, só assim eu teria um tempo de qualidade em família. Felizmente, em agosto do ano passado, esse mecanismo foi interrompido. Infelizmente, isso aconteceu por meio de um tumor maligno que se alojou na minha língua.
O câncer me fez encarar a possibilidade de morrer antes do esperado. A doença, simplesmente, passou uma borracha em meu futuro. Apagou, sem dó nem piedade, tudo aquilo que nem teve a oportunidade de acontecer. E foi só quando me vi assim, desprovida de futuro, que aprendi a viver.
Hoje, vejo que o futuro é feito de muitos “agoras”. É feito de vários “momentos presentes”. O amanhã é uma coleção de “hojes”. Se não for encarado assim, o futuro se torna um lugar muito distante. Passamos a vida planejando o futuro enquanto a riqueza do presente nos escorre pelos dedos.
Condicionamos nossa felicidade a conquistas que ainda não aconteceram enquanto esquecemos de demonstrar gratidão diária pelo que já é nosso. Estamos tão habituados a querer sempre mais que raramente paramos para apreciar o que já está a nossa volta.
Precisamos planejar, sonhar, visualizar o futuro, sim. Isso nos move, renova nossas forças, nos faz ter objetivos. Mas tudo o que for desejado para daqui a algum tempo deve estar aliado ao que é desejado hoje. Objetivos a curto prazo são igualmente importantes.
Planejar o dia de hoje é tão necessário quanto planejar o resto da vida. Pensar em maneiras de aproveitar o presente é um atalho para um futuro brilhante. Até porque o futuro é apenas uma hipótese, uma mera possibilidade. As únicas certezas que temos moram no passado e neste exato momento. Todo o resto é mistério.
O amanhã não existe sem o hoje, mas o hoje existe sem o amanhã. É aí que mora o segredo. É só através do agora que chegaremos ao depois. Só através deste exato momento, chegaremos ao próximo. A consciência do valor de cada etapa nos encaminha para uma vida mais tranquila.
Se conseguirmos saborear o que nos é oferecido nessas vinte e quatro horas, certamente as próximas vinte e quatro virão com algo a mais. Encarando a vida assim, como um conjunto de dias a serem aproveitados em sua essência, a ansiedade da espera por um futuro melhor dá lugar à certeza de que o melhor é o que temos para hoje.
E, assim, se algo der errado, se o tal futuro não chegar, nada terá sido em vão. Cada dia terá sido precioso e valioso a ponto de ter feito a vida valer a pena.
Afinal, a vida é esse amontoado de dias que vai passando sem que a gente perceba. O futuro é esse monte de momentos desperdiçados pela rotina. O amanhã é essa porção de “hojes” jogados fora. O amanhã é agora! O futuro é hoje! A vida é já!
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