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O amor começa quando a picuinha acaba. Menos falatório e mais beijo na boca!

Acontece. O amigo pode discordar, a amiga há de torcer o nariz. Mas eu tenho cá pra mim que andamos perdendo muito tempo com tanta reclamação. É gente se queixando daqui, fulano resmungando dali, beltrana mandando indireta acolá. Eu mesmo, agorinha, ando a fazer a mesma coisa: reclamando de quem reclama. Mas acontece também.

O fato é que tanto tempo investido em diz-que-me-disse, futrica, pendenga, fofoca, sexo dos anjos, acusações, dedo em riste, pelo em ovo e afins não pode dar em boa coisa, não.

É muita objeção e pouco objetivo, minha gente! Aí, já viu. Nossos pontos de vista gritados a qualquer custo se tornam pontos de desencontro. Só nos afastamos cada vez mais. Não pode!

Todo mundo reivindicando razão, postulando a verdade das coisas, esgoelando, repetindo teses prontas. Cada um agarrado a seu pedaço ilusório de bom senso, feito um osso de boi carcomido, roído por mil cães. Em contendas inúteis, sentamos nos próprios rabos, agarrados a nossos preconceitos de estimação, e nada mais fazemos senão tagarelar à espera da sexta-feira seguinte. Do feriado seguinte. Do réveillon seguinte. Do Ano Novo seguinte. Só para seguir fazendo tudo exatamente do mesmo jeito.

E dá-lhe falação, discurso, pelejas e filosofices com a profundidade das tábuas de bater carne. Enquanto isso, a vida passa.

Ela passa, sim. Passa rápido. Lá pelas tantas a gente se pergunta: “cadê?”. E um vento livre, impetuoso, invade a casa, bate a porta e nos conta num susto: “passou!”.

Eu mesmo, ainda ontem – ontem! – brincava debaixo da mesa da cozinha de cutucar o pé da minha bisavó, enquanto ela escolhia o arroz. Hoje sou pouco mais que um velho bicho sozinho, escolhendo lembranças de uma infância perdida para contar ao meu filho.

Cá o tempo vai passando – o tempo que é o outro nome da vida – e eu vou desconfiando de que viver é o que acontece entre uma reclamação e outra. Se olharmos bem, é muito pouca vida para tanta conjectura!

E até que um anjo nos prove o contrário, a vida é uma vez só. Então vamos de uma vez a ela! Chega de queixa e vamos à vida. Reclamemos menos. Vivamos mais! Menos falatório e mais beijo na boca!

Não. Eu não estou defendendo a alienação. Estou apoiando o beijo na boca. Simples e só assim. Reclame. Você tem o direito. Meta a boca no trombone! Mas não seria mal dedicar um bocadinho de saúde e vigor labial a um bom e velho beijo na boca, às palavras ora doces, ora safadas, ditas no portão da orelha do ser amado, às simples e poderosas declarações de amor e desejo.

É certo que o amigo e a amiga vão me dar razão. Então, se estiver por aí perto aquele ou aquela que caminha ao seu lado, não perca nem mais um segundo: tome a pessoa nos braços e dê-lhe um beijo de novela! Se ela estiver longe, passe a mão no telefone e avise que se prepare, porque você vai abrir a janela e mandar-lhe uma beijoca no vento. Na boca, claro! A vida é só isso e não é só “osso”. É esse o nosso presente. O nosso agora! Beijemos na boca! E o futuro? Ahh… o futuro a Deus pertence! E Ele há de nos beijar também!

André J. Gomes

Jornalista de formação, publicitário de ofício, professor por desafio e escritor por amor à causa.

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André J. Gomes

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