Por ElikaTakimoto
Estava aqui lendo Proust (fala sério, gente, eu sou mega burguesia cultural insuportável), quando recebo o telefonema da Nara, minha filha adolescente, que acabava de sair de um ensaio.
– Mãe! Encontrei o homem da minha vida!
Nara faz cursos de teatro, dança, canto e bababá bububú lá em Copacabana. Num desses ambientes, apareceu um rapaz bonito, mais experiente que ela na carreira artística e que lhe ajudou em um ensaio lá pelas tantas. Ele explicava, ela ficava olhando com aquela cara de quem olha para um pote de nutella munido com uma colher. Entendeu, Nara?
– Ai, mãe!, eu nem havia prestado atenção!, acredita? Ele me perguntou quanto tempo eu estava estudando canto e o que mais eu fazia! Disse que sou afinada! Mãe! É o homem da minha vida! Tem que ver que fofo ele me ensinando as coisas! Quero me casar com ele, mãe! – Falava ela como se houvesse encontrado um vestido que lhe vestisse muito bem.
Nessas horas, eu tenho que fazer o meu papel de mãe e ponderar algumas coisas mega válidas.
– Ele é neoliberal? – Perguntei.
– Ai, mãe, mora na zona sul, já trabalhou para a um empresa americana… será?
– Ele é vegetariano?
– Não sei, mãe…, pode ser que sim.
– Ele tem cara de quem adotaria uma vira-lata?
– Tem super cara disso, mãe.
– Tem nada! Você não o conhece, minha filha!
Resolvi dar meu cheque-mate na conversa:
-Qual o signo dele?
(Não que isso importa para mim, mas sei que Nara é desse tipo que sabe se um relacionamento vai dar certo ou não olhando a data de nascimento dos namorados.)
– Não sei, mãe! Mãe! Ele NÃO pode ser de libra! Mãe! Se for de libra… eu teria que ver o ascendente… Eu super dou errado com librianos…
– Você não sabe nada desse rapaz e diz que ele é o homem da sua vida? E se for gay?
– Mãe! Não importa! Isso tudo que você falou são detalhes! Não dá pra ficar se pegando nessas pequenas coisas e, depois, agora ele me conheceu, né? Eu estou aqui para mudá-lo! Ele vai super ser desses que adotam vira-lata e se orgulham disso, vamos conhecer Cuba, comer só coisas que não têm cabeça, vamos andar de mãos dadas pelas ruas do Rio, ver filmes com o Johnny Depp e Helena Bonham Carter, ele vai aprender a cozinhar e vamos ser ricos cantando juntos! Não é lindo, mãe?
Nara estava com a Primavera no estômago. Que máximo…
O rapaz apareceu na aula como assistente do professor, resolveu ajudar a Nara e ela assimilou isso tal como aquelas cenas de filme onde o cara aparece no aeroporto no último segundo só pra pedir pra mocinha ficar. Nem acreditei… Incrível como Nara cresceu e está pronta para viver em sociedade. Viver a vida intensamente. Ter um relacionamento sério. Orgulho de ver minha filha iniciando o ciclo: apaixonar-se loucamente, viver o amor, desiludir-se, tomar rivotril fazer terapia engordar emagrecer e querer virar um monge budista desapegado. Se ela der sorte, o ciclo se passará ou muito lentamente, a ponto de não dar tempo de passar para a fase 3, ou terminar rápido demais e deixá-la pronta para iniciá-lo novamente.
Nara me disse que iria desligar e fazer algumas coisas importantes antes de pegar o metrô e depois o trem para Madureira. Mais tarde, a gente veria juntas o que era preciso para a cerimônia. Ok. Beijo, filha. Beijo, mãe!
– Mãe! – Ela, em menos de um minuto – Descobri! Ele pode ser de esquerda! Ele estuda na UFRJ. É de gêmeos! Hétero e compartilhou vídeos de animais! Agora estou indo para casa! Beijo de novo, mãe!
Nara stalkeou o príncipe todinho, gente.
Cá para nós… Ainda que ele tenha votado em Aécio, goste de bife mal passado e tenha um gato persa, eu sei, Nara sabe e todo mundo sabe que o amor entre o futuro-marido-da-Nara-do-momento e ela pode acontecer de verdade, pois, o amor debocha da nossa razão. Referenciais não nos enchem de desejo. Buscamos um parceiro tal como os animais: pelo cheiro. Talvez um pouco mais do que isso: pelo mistério, pela paz que a pessoa nos traz ou pelo tormento que ela nos provoca. Ama-se por aquilo que o beijo nos oferece. Pelo o que sentimos quando tocam a nossa nuca ou quando nos explicam o que não entendemos com um jeito suave, ainda que não prestemos atenção em nenhuma palavra dita.
O amor, cuja fórmula matemática é: eu fofa + você fofo = casamento eterno, não requer consulta prévia, não se dá a stalkeamentos.
O amor da nossa vida gosta de clichês, portanto, o amor da nossa vida não é aquele que nos leva a Paris e sim traz Paris para dentro da gente. Não nos faz querer a chegada da Primavera; o amor da nossa vida é a nossa Primavera.
É isso. Cá estou pesquisando na internet umas casas de campo bem bonitinhas para sugerir a eles como moradia.