Marcel Camargo

O amor da sua vida nem sempre será o amor pra sua vida

Infelizmente – ou até mesmo felizmente -, nem sempre acabaremos junto daquela pessoa que achamos ser o amor de nossas vidas. Nem mesmo se tivermos certeza. Ninguém prevê o futuro, apenas nos cabe planejá-lo. Ninguém pode afirmar com todas as letras o que vai acontecer, quem vai ficar, quem vai partir. Eis uma das características mais doloridas e prazerosas dessa vida.

A paixão costuma arrebatar e embaralhar os nossos sentidos, cegando-nos frente ao que não seja bom. Idealizamos, assim, nosso objeto de desejo, supervalorizando tudo o que nele nos atrai, esquecendo-nos, porém, dos alertas que ali também existem. Amadurecer a paixão dói, porque requer despir o véu da ilusão e encarar o que realmente se encontra ali junto de nós. Não muitos casais sobrevivem a isso.

Da paixão ao amor há um longo e difícil caminho de concessões, de luta, de entendimento, de troca e disposição. Amor é vontade, mais do que desejo. É entrega, mais do que cuidado. É acordar diariamente com o propósito de amar e amar de novo a mesma pessoa, apesar de e por causa de. Sem desprendimento, partilha, empatia e verdade, amor algum vinga. Ninguém fica onde só existe eco vazio.

Às vezes, o amor de nossa vida não é o amor mais certo, mais saudável, mais calmo. E, se não houver calmaria, ninguém sossega, pois sentimento algum se acomoda ao que é incômodo e faz doer. Às vezes, a gente se ilude e enxerga amor da vida em qualquer coisa, em qualquer um, ainda mais se estivermos carentes em excesso. Daí a necessidade de acalmarmos o coração, para ouvirmos cada compasso que ele emite, de acordo com o que oferecemos e recebemos. Sem ritmo, o amor se vai.

Com calma e maturidade emocional, somos capazes de compreender que, muitas vezes, o amor para a nossa vida não é quem pensávamos ser o amor de nossa vida. Algumas pessoas, por mais que se amem e queiram, não conseguem ficar juntas, pois acabam se machucando e deixando de ser elas mesmas. E haverá de existir o amor que merecemos, que chegará e se aninhará em nossa alma, com verdade e reciprocidade, sem rodeios, sem dúvidas, sem metades.

Sim, esse então será o amor para sua vida, para sua lida, para sua história ser mais feliz e realizada.

***

Imagem de capa meramente ilustrativa: cena do filme “A Incrível História de Adaline”

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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