Marcel Camargo

O amor é o melhor cicatrizante que existe

Dói quando a gente se engana com alguém, quando a vida diz não, quando perdemos as pessoas. Dor física a gente combate com analgésico, dor da alma a gente cura com amor.

Existem vários tipos de dores, de ferimentos e de machucados. Há dores que vêm de fora, há dores que vêm de dentro. Fato é que as dores invisíveis, muitas vezes, serão muito mais fortes e duradouras do que as dores físicas, porque elas envolvem emoções, sentimento, lembranças, culpa, remorso e decepção.

Dói quando a gente se engana com alguém que se mostra, com o tempo, como uma pessoa totalmente oposta ao que esperávamos. Pior é que, enquanto o outro ainda finge ser quem não é, a gente se abre e compartilha tudo, a gente se abre e se doa. Então, de repente, o outro usa contra nós tudo aquilo que lhe oferecemos, distorcidamente, cruelmente, covardemente. Dói.

Dói quando a vida diz não, quando os sonhos se apequenam, quando a vida não dá certo. A gente estuda e se prepara e não passa no vestibular ou no tão sonhado concurso. A gente atravessa as etapas de uma seleção de emprego até o fim e não é chamada. A gente idealiza planos para os filhos e eles caminham do lado contrário. Tanta coisa não dá certo, tantos imprevistos – muitos deles desagradáveis. Dói.

Dói quando o relacionamento amoroso não dá certo, quando o rompimento é a única saída de uma situação que não mais se suporta. Todos queremos que a vida a dois dê certo, porque nos esforçamos, suamos e nos dedicamos ao outro com verdade e inteireza. Daí o retorno não vem, os olhos fitam o vazio de uma entrega sem sentido, desvalorizada e unilateral. Dignidade nula, sentindo-nos um nada, resta-nos partir. Dói.

Dói perder pessoas; a alma se fere com a ausência de quem tanto amávamos. Vivemos e vamos acumulando gente que chega e gente que se vai. Por mais que saibamos da finitude da vida, parece que nunca estamos preparados para enfrentar a dor do luto, por nossos queridos, por nossos animaizinhos de estimação, enfim, por todos aqueles cuja presença deixava o dia mais bonito. Dói.

Nesses momentos, teremos que enfrentar muita escuridão e desesperança de forma solitária, no sentido de que se trata de uma jornada muito íntima e pessoal. Ainda assim, olhar para o lado e sentir o amor de quem sempre esteve ali do nosso lado e sempre estará, com acolhimento verdadeiro e afeição sincera, será essencial na cicatrização de nossas feridas emocionais. Porque não há nada que possua o poder de cura que o amor irradia. Dor física a gente combate com analgésico, dor da alma a gente cura com amor. Sempre o amor.

Imagem de capa: Kokulina/shutterstock

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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