Por Maria Cristina Ramos Britto
É raro encontrar uma pessoa que não reclame de falte de tempo, como se ele estivesse encolhendo e sempre nos roubando momentos, com a família e os amigos, e nos emboscando com afazeres e compromissos que parecem não ter fim. Acabamos sacrificando o lazer pelo trabalho, a saúde pelo sedentarismo, a alimentação equilibrada pela rápida, o prazer pelas obrigações. Acreditamos que essa situação pode mudar, que é apenas uma fase, e assim os anos vão passando, com a incômoda sensação de que foi o relógio que acelerou. Se é verdade que há uma sobrecarga de tarefas, complicada, por exemplo, pelo trânsito caótico e por atrasos que independem de nossa vontade, por outro lado, reclamar de problemas que fogem ao nosso controle é perda de tempo (de novo ele).
E nesses tempos que escorrem como areia pelos dedos, como fica o romance? Porque, afinal, ainda é preciso exercitar ao menos um músculo, nem que seja o coração. A humanidade, desde tempos primitivos, sempre buscou soluções, por isso tantos inventos e, acima de tudo, nossa renovada capacidade de sobrevivência como espécie. Com os relacionamentos, não é diferente: através dos tempos, novos modelos foram surgindo, oficiais ou clandestinos, passionais ou mais realistas, até mesmo arranjados ou de conveniência, indivíduos se aproximaram e dividiram seus quereres de acordo com o tamanho do afeto ou da necessidade. O amor romântico, como o conhecemos, é recente, ainda é o objetivo de muitos, não mais tão eterno ou único, mas que preencha os sonhos de felicidade.
Mas como encontrar aquele alguém especial nessa rotina que rouba nosso tempo? Não faltam dicas nas revistas especializadas e a internet oferece oportunidade de conhecer alguém, através de sites e redes sociais. Há também um recurso bem de acordo os dias atuais: o speed dating (encontro rápido, em português), um evento que ocorre em ambientes escolhidos, como restaurantes ou baladas, em que números iguais de homens e mulheres travam contato em conversas com duração de 4 minutos. São mencionadas pesquisas, pelos organizadores, sem detalhes ou menção de fontes, que indicam que 3 minutos são suficientes para que se descubra se houve “química” entre os pretendentes. Essa teoria pode sustentar a ideia de amor à primeira vista, coerente com a alegada falta de tempo, onde até a escolha de um(a) companheiro(a) deve ser otimizada. Se no intervalo de tempo determinado, não se ouvir sinos, ver estrelas ou sentir um friozinho na barriga, uma campainha soa, e passa-se a oportunidade para o(a) próximo(a) candidato(a).
Não pretendo criticar o método, afinal, quanta gente já se apaixonou em situações inusitadas, como o supermercado ou a ante-sala do dentista, sem esquecer as histórias de encontros que começaram no sábado de carnaval e sobreviveram à quarta-feira de cinzas. Afinal, no amor, tudo é válido, desde que não seja ilegal, ou imoral, ou engorde. Queimar etapas nesse processo é receita para tempos sombrios de lágrimas e decepção, consequências inevitáveis de um coração partido. As pessoas precisam de tempo para se conhecer e o amor, de tempo para amadurecer. E antes de decidir o resto de nossas vidas, precisamos construir as bases para os sonhos.
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Carioca, psicóloga com especialização em terapia cognitivo-comportamental, palestrante e, às vezes, escritora
Blog pessoal http://mariacristinapsicologa.blogspot.com.br/
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