O tempo é um fenômeno que muitos tentam explicar e que poucos vivenciam de fato. Eu sei disso porque já fui um desses últimos. Me importei mais com a teoria do que com a prática, mais com falar sobre amor do que fazer, mais com a aparência e menos com a essência. Já calei quando devia falar e já falei quando devia ter ficado quieto. Mas nada disso importa agora. O que pega mesmo pra mim agora é o fato de nunca ter dito o quanto você foi importante pra mim.
Nunca é tarde demais para falar sobre aquilo que realmente importa. Acho que li isso em algum lugar, e desde então a saudade se tornou martelo e o meu peito bigorna. O que importa agora é dizer que valeu a pena cada suspiro e gemido debaixo dos cobertores em dias de chuva, cada gole de cerveja tomada em copo americano, cada piadinha infame que contávamos um para o outro.
Também valeu a pena cada momento em que desafiamos o mundo com nossos sonhos,que desafiamos o tempo com nossos abraços intermináveis contra a pressa furiosa do relógio que insistia em nos dizer que precisávamos ir a algum lugar.
Valeu a pena as noites mal dormidas por conta de conversas intermináveis sobre bandas, livros, filmes, estrelas e galáxias distantes; sobre a vida, sobre a morte, sobre aliens, sobre fantasmas assombrando o corredor e sobre coisas inúteis como saber quem ganharia uma luta entre Chuck Norris e Steven Seagal (inútil porque qualquer um, menos você, sabe que o Seagal é imbatível).
Eu sei que você ainda pensa em mim quando escuta musicas hipsters (tipo bandas da Cracóvia ou da Esbórnia – país que é ligado ao continente por um istmo), certa de que eu iria tirar sarro de você por isso. Em contrapartida, você também sabe que eu ainda penso em ti quando leio Victor hugo. Não vamos conseguir nos livrar um do outro assim tão facilmente.
Nós dois sabemos bem que a vida é cheia de idas e vindas, mas é importante que você saiba que a sua vinda fez toda a diferença pra mim e que eu sei que essa ida é apenas o prólogo de uma nova chegada sua na vida de outra pessoa – uma pessoa de sorte, com certeza. Não que eu não encare isso com certa melancolia e até com algum remorso, mas é que estar com você me ensinou que o amor não é uma gaiola, mas sim uma casa grande e arejada onde as portas e janelas estão sempre destrancadas.
Nós apenas mudamos de casa, levamos nossos livros, discos e canecas para outras estantes; conhecemos paisagens de outras janelas; nos acostumamos com as infiltrações de outras paredes; aprendemos os macetes de outras portas. Isso é natural e, onde quer que você more agora, eu só quero que saiba que desejo que seja confortável e aconchegante.
É, eu fui feliz. Na verdade, ainda sou. Porque nenhuma história termina antes de rolarem os créditos… e quer saber? Talvez toda história sobre amores como esse tenham um roteiro maior e mais complexo que toda a filmografia de Godard.
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