Imagem de capa: View Apart/shutterstock
Você pode até se apaixonar por alguém do dia para noite, mas amar alguém é algo que se constrói. Vamos amando aos poucos o jeito como o outro se ajeita no sofá para ver aquele filme, o cafuné que faz em nós com tanto amor, a sua paixão por comida e o jeito que leva e vê a vida.
É aos poucos que aprendemos a amar e a tolerar aqueles defeitinhos chatos que nos irritam e, ao mesmo tempo, fazem com que a gente veja que podemos amar aquilo achávamos não ser possível. Que podemos rir daquilo que aparentemente nos irrita.
Aos poucos, vamos amando o jeito que aquele alguém mexe no cabelo e quando nos pede para ficar mais um pouco. Mas, assim como o amor se constrói aos poucos, ele não acaba do dia para a noite.
O amor vai morrendo quando, ao invés de interromper uma briga com um beijo, o outro diz palavras que prolongam ainda mais uma discussão qualquer. O amor morre aos poucos, quando o orgulho domina mais que o perdão. Quando as desculpas ficam apenas para os corretos e sempre existe um culpado.
O amor morre aos poucos, quando um insiste em fazer dar certo e o outro persiste em dar errado. E, assim, com a indiferença, os gestos que machucam e as palavras que ferem, o amor vai perdendo a capacidade de lutar, vai deixando de ser amor e vai virando dor. Aquela dor que machuca e nos faz sofrer.
É quando a saudade vira apenas lembranças e deixa de ser reencontro. Quando os erros do outro viram motivos para termos razão. O amor morre aos poucos, quando o outro não valoriza, não elogia, não se importa e, principalmente, quando deixamos de ser nós mesmos e nos escondemos em um riso disfarçado de “tudo bem”, quando, na verdade, está tudo de mal a pior.
O amor morre aos poucos, quando perdemos a parceria de quem amamos, assim como a generosidade e a paciência. Quando o outro desiste, enquanto você luta. E, então, o que era amor vira desamor e vai aos poucos perdendo o seu colorido, vai aos poucos deixando de ser bonito, até que um dia não suportamos mais o pouco que recebemos e o relacionamento chega ao fim, não por falta de amor ou falta de tentar, mas pelo cansaço da insistência, de tanto avisar e o outro ignorar, como quem acha que, uma vez brotado a semente do amor, jamais precisaremos regá-lo novamente.
E então a gente cansa de insistir, de tentar fazer dar certo, cansa da mesmice e da zona de conforto. A gente percebe que aquilo está mais para comodismo do que para amor e, no fundo, a gente deseja ser cuidado e não apenas cuidar; a gente quer abraços, beijos e elogios e, mesmo sabendo que o outro nos ama, queremos ouvir o eu te amo. E, quando tudo isso fica apenas no começo da história, o amor vai deixando de ser amor e vira ferida, vira mágoa e discussão, e o que era para ser paz começa a ser tempestade, daquelas que parecem não passar.
Mas o amor não vira desamor em 24 horas ou em uma briga; o amor vai morrendo aos poucos e, mesmo a gente tentando reacender, só é possível pegar fogo se o outro tentar também, caso contrário, ela – a chama – apaga, assim como o amor também morre.
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