Tem gente que acha que o ciúme é o tempero do amor. Caso isso fosse verdade, eu diria que o ciúme é o tempero equivocado do amor; aquele negócio que acaba com o sabor original das delícias da vida, porque invade tudo com um gosto esquisito que não agrega nada, apenas estraga. No meu caso – e isso é muito particular – o ciúme seria, com certeza, o coentro. Eu odeio coentro! Odeio coentro com todas as minhas forças! Por mim, o coentro podia desaparecer da face da Terra e que levasse junto com ele esse sentimento travestido de bem-querer, mas que não passa de uma tola ilusão de posse chamado ciúme!
É absolutamente triste supor que o fato de estarmos o tempo todo ligados na outra pessoa, fará com que o nosso vínculo com ela seja fortalecido e ganhe ares de perpetuação do amor. Sinceramente, eu penso que viver em função do outro, tentar ocupar todos os espaços e, pior ainda, temer que esses espaços sejam “roubados” por outro alguém, acaba com a beleza e espontaneidade de qualquer relacionamento.
Isso, sem levar em conta a indispensável necessidade de reflexão acerca dessa tola crença de que pessoas são “roubáveis”. Ora, ninguém rouba ninguém de ninguém. Pessoas não são coisas para serem subtraídas. Acreditar que se tem o poder de permitir, ou não permitir ao outro transitar por outras experiências e viver outras relações de afeto com amigos, familiares, colegas ou quem e o que quer que seja, reduz qualquer relacionamento a uma maluquice completa que leva a crer que essa situação vai durar para sempre.
Nada dura para sempre! Nenhum relacionamento tem a chance de virar uma história que valha a pena ser vivida, se não for uma experiência fluida, cheia de possibilidades de crescimento para ambos e uma vivência que inclua o outro, que permita ao outro ter uma vida própria.
Nenhum relacionamento faz sentido, quando não é construído sobre uma base de confiança e entrega. Obrigar a outra pessoa a abrir mão de conviver com pessoas queridas porque se tem ciúme é, no mínimo, passar atestado de insegurança e de falta de disposição para confiar na lealdade do outro. Esse tipo de ciúme que coloca o parceiro ou a parceira num lugar desconfortável de renúncia forçada, é tosco, é pobre e é literalmente um tiro no próprio pé.
Uma hora ou outra, o ciúme vai perder esse falso encanto de servir como prova de importância. Uma hora ou outra, essa exclusividade artificial vai tirar do convívio aquele frescor que só a leveza de um amor maduro é capaz de proporcionar. Uma hora ou outra, a tensão vai corroer a película de encanto, tão viva, que a paixão inicial pincela no peito de quem teve a bonita sorte de se apaixonar.
O ciúme é uma âncora enferrujada! É um peso que rouba da gente a deliciosa oportunidade de viver a aventura que é ser feliz junto, tendo o direito de continuar sendo quem se é. E, não há nada mais tolo do que iludir-se com um sentimento que engaiola, que aprisiona e imobiliza. Amor é brilho nos olhos, é partilha de sonhos, é poder jogar-se de olhos fechados sem rede de proteção. A rede de proteção numa relação de amor inteiro é a delícia de enxergar no outro um ser que é livre. E, sendo livre, escolhe ter ao nosso lado uma experiência indescritível de afeto que liberta de dentro de cada um a parte mais bela.
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