Eu desconheço um coração mais teimoso que o dela. Coração capricorniano. Já se esfolou todo nessa brincadeira de amar, mas está sempre sacudindo a poeira e se dispondo a recomeçar. É um coração que honra a dona que tem. Coração resiliente. Já enfrentou temporais, desertos escaldantes, madrugadas frias e encharcadas de lágrimas, mas recuperou-se com uma rapidez surpreendente.
Coração arretado, como diriam os pernambucanos. Bicho porreta. Ele não é um coração “criado com vó”. A cada tombo, ele levanta mais disposto, mais imponente e, pasmem, sem rancores. Ele aprendeu a deixar para trás o que não acrescenta, mas, principalmente, a levar consigo o aprendizado que os tombos lhe ensinaram.
Ele até já tentou, por incontáveis vezes, a desistir dessa experiência de se envolver. Já fez promessas, juras, já esmurrou paredes, já se chamou de idiota, de sem noção, de burro, e de tantos outros adjetivos nada elegantes. Contudo, parece ser algo mais forte que ele. Não, ele não é um coração vagabundo, tampouco sem amor próprio, eu diria que ele é muito crédulo, entende? É como se ele tivesse a consciência de que, o que ele procura existe, apenas não encontrou ainda. Ele se perdoou pelas vezes que se equivocou. Coração humano, generoso e cheio de poesias.
Ele se esforça para ser incrédulo, mas já está largando essa ideia de mão. Ele é movido a esperança. Ele se deu conta de que é possível encontrar um outro coração para entregar-lhe a bagagem mais bonita que recebeu da vida: o desejo de amar sem reservas. Não adianta tentar convencê-lo a desistir dessa crença. Ele já se machucou o suficiente para desistir de acreditar, mas, segue confiante. Coração intuitivo.
É fato que as intempéries às quais ele foi submetido transformaram-no em um coração mais seletivo. Isso é ótimo. Ele ficou “raposa velha” na coisa. Digamos que ele adquiriu um feeling, uma espécie de radar de última geração, capaz de identificar, sem muitas delongas, propostas sem futuro, vindas de corações mornos e almas rasas. Sim, eu poderia chama-lo de coração ambicioso. Mas, que mal há nisso? Ele quer viver o que vale a pena, dispensando experiências mornas, sem sal e sem futuro. Sem futuro, no sentido de viver algo que, se acabar, não vai deixar um frio na barriga quando vierem as lembranças. Captou?
Ele recebe muitas críticas. De que escolhe demais, de que o tempo praticamente já passou para ele, de que o amor que ele quer não existe…blá blá blá. Quem liga? Ele abstrai e finge demências nessas horas. Coração independente, que pensa com a própria cabeça. Ele aprendeu que as frustrações alheias não servem como baliza para os sonhos dele. Problema do outro que já chutou o pau da barraca e desistiu de acreditar no amor. Não é o caso dele, não é preciso entender, basta respeitar.
Ele carrega essa crença visceral de que, em algum lugar, existe um coração parceiro para misturar as batidas. Ele saberá reconhecer essa parceria quando ela acontecer. Ele não tem pressa, embora se sinta pronto. Ele é maduro o suficiente para perceber a infinidade de coisas que pode viver até o outro chegar.
Imagem de capa: Nina Buday/shutterstock