Houve um dia em que a coisa mais importante e necessária a fazer era perdoar. Era fechar o assunto e partir para outro, destruir diferenças, esquecer a mágoa e acordar e reviver o afeto.
Houve esse dia embora não lembremos cada um do seu, quando lançamos mão erradamente de uma virtude que, linda em sua essência, mas castradora quando mal interpretada.
Nesse dia o perdão gritou por socorro, mas a lealdade estava servindo a outros senhores, e o sufocou.
Nesse dia, a lealdade teve os mais variados comandos. Lealdade ao orgulho ferido; lealdade à vaidade cega; lealdade aos paradigmas, às relações de poder, aos interesses mesquinhos… lealdade à justiça de uma só via.
E, por fim, abateu o perdão.
Pobre lealdade, sequer se deu conta do que fez. Foi usada como arma, como argumento, como escudo, como desculpa.
Quem de nós não viveu essa estorinha ao menos uma vez na vida? Pediu perdão e não obteve, pois alguém alegou lealdade às suas crenças e certezas? Ou, ouviu um pedido de perdão e negou, preferindo ser leal ao orgulho ressentido?
Lealdade não é para ser citada como parceira nem cúmplice. Lealdade é respeito e compromisso, mas não pode impedir um ato de reconciliação, de entendimento, de restabelecimento da paz.
Um gesto de perdão liberta ambas as partes, deixa fluir rios de mal entendidos e rancores. Um pedido de perdão entorta o mais rígido dos orgulhos, acerta diretamente o sujeito da ação, enche de coragem quem o faz. O perdão não pode e não deve se submeter a condições, deve ser concedido por vontade e generosidade.
Dentre as lealdades que carrego na vida, todos os dias digo a mim mesma: Na dúvida, escolha o que liberta, não o que te aprisiona. Seja leal à sua paz de espírito e não submeta ninguém aos seus padrões e julgamentos.
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