Por Octavio Caruso
Que tem a morte de errado?
Por que temos esse medo mortal?
Por que não tratamos a morte com humanidade, dignidade, decência e até com humor?
A morte não é o inimigo.
Se quiserem enfrentar um mal, enfrentem o mal da indiferença.
“Patch Adams – O Amor é Contagioso” (Patch Adams – 1998), dirigido por Tom Shadyac, que havia sido responsável pelas ótimas comédias “O Mentiroso” e “Ace Ventura”. Não é um ótimo filme, longe disso, o próprio homenageado despreza a obra, tampouco a atuação de Robin Williams é acima da média, mas a mensagem que o roteiro de Steve Oedekerk transmite foi muito importante em minha formação. Eu tinha por volta de quatorze anos quando assisti pela primeira vez, estava sofrendo o momento mais tenso do bullying na escola diariamente, buscando motivos para continuar acreditando que valia a pena seguir em frente. Eu era apenas o rato de biblioteca e sebo, aquele esquisito magricela, com óculos maiores que o rosto, que tirava boas notas e passava tardes inteiras na seção de clássicos das locadoras de vídeo. Eu sonhava em encontrar na sala de aula uma menina como a namorada do personagem, vivida pela bela Monica Potter, que enxergasse em meus papos sobre cinema e literatura algum elemento interessante ou encantador. Não tive sorte, as garotas gostavam mesmo era dos meus colegas amantes do futebol na hora do recreio.
Nas aulas de redação eu extravasava minhas angústias, enquanto todos os colegas se focavam nos simplórios temas pedidos pela professora, o clássico “João foi pra escola com Maria…”, escrevendo o mínimo de linhas requisitado no exercício, eu desafiava a professora aprofundando os temas, normalmente criando enredos de fantasia ou suspense com vários personagens, praticamente contos, sempre excedendo as linhas e deixando minha imaginação voar pela página de trás em branco. O que me interessava não era a nota, mas o pequeno texto que a professora escreveria ao lado da nota, com sua sincera opinião sobre ele. Eu, inconscientemente, exercitava aquilo que amo fazer até hoje. E, dentre tudo que escrevi nessas redações, acho que nada foi mais repetido que os trechos do discurso final do personagem Patch Adams no filme, quando ele enfrenta o Conselho de Medicina com seus argumentos sobre o valor inestimável de se tratar o paciente, nunca tratar a doença. Isso serve para tudo na vida.
Eu me emocionava bastante quando o discurso é interrompido para a entrada do grupo de pais e filhos que tiveram a dor de suas vidas amenizadas pela terapia do riso praticada pelo personagem. A gratidão nos olhos deles, a lágrima que insinua rolar no rosto de Adams, pode ser um recurso narrativo extremamente demagógico, mas funcionava muito bem para um estudante adolescente que tentava encontrar razões para entender em sua rotina diária a violência como resposta à afabilidade. Quando Williams defendia o amor de seu personagem pela função que exercia, enfrentando uma classe que não o considerava digno de coabitar o mesmo ambiente, eu me identificava e tremia por dentro. Ele, em dado momento, recebia o olhar carinhoso de aceitação do único professor que o respeitava. Todos nós temos na vida alguém assim, que coloca a mão no fogo por nossas convicções e aposta em nossos sonhos, mesmo quando parecem ser impossíveis. Alguém como o coronel cego vivido por Al Pacino em “Perfume de Mulher”, que afirma sua confiança no futuro glorioso do jovem vivido por Chris O’Donnell. É um elemento facilmente identificável.
E o que mais me agradava no filme era constatar que, ao hilário final ambientado na cerimônia de formatura, Patch continuava sendo um rebelde. Ele não se adequou à mediocridade, mas sim a subjugou implacavelmente. Era o estímulo que eu precisava. A humilhação constante podia ferir a alma, mas não me impediria de estudar, não me impediria de sonhar. Esse é o meu trecho favorito, daquele que muitos consideram um filme medíocre, sem valor algum. Um dos aspectos mais fascinantes nessa Arte é buscar sempre o tesouro escondido onde menos se espera…
E hoje, seja qual for sua decisão, juro que vou chegar a ser o melhor médico de todo o mundo.
Vocês podem impedir minha formatura.
Podem me negar o título e a bata branca.
Mas não podem dominar meu espírito, nem evitar que eu aprenda.
Não podem me impedir de estudar.
Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.
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