Por Tatiana Nicz
Devo estar sendo repetitiva, com certeza já devo ter falado sobre isso, mas tenho notado cada vez mais como somos acostumados com o caos, com a escassez, sempre reclamando, sempre conectando no pior lado, sempre, sempre vendo o copo menos cheio.
Ultimamente, quando quero entender algo, olho antes para dentro de mim, porque certamente o que vemos de ruim no outro é nada mais que um espelho do que acontece dentro de nós. Como no existencialismo de Sartre, tudo é sentido com base no que nós estamos de fato focando, geralmente notamos aquilo que temos ou queremos e se nos incomoda, certamente é porque mais temos do que queremos. Portanto, se algo do outro está ressoando em mim, é porque ele existe dentro de mim.
Eu, como muitos, também vago pelo mundo, sempre achando algo de algo, tecendo julgamentos, na maioria das vezes pouco fundamentados, distribuindo opiniões sobre tudo e todos (muitas vezes sem ter sido pedida). Porque parece-me que isso é o que mais sabemos fazer ultimamente: opinar. Então saímos por aí, opinando sobre tudo, até aí tudo certo, nosso cérebro é feito para isso: racionalizar. Isso por si é algo bom, não fosse nossa mania de estarmos sempre conectados na escassez, notando tudo que tem de errado e ruim, sem perceber que, na maioria das vezes, estamos sempre voltados também para o pior de nós mesmos.
Quando lemos algo, quando vemos um filme, quando experimentamos algo novo, quando viajamos, quando conhecemos alguém ou aqueles que já conhecemos, todos esses processos sempre são acompanhados de como aquilo é processado dentro de nós, nossa própria experiência sobre aquilo. Moldes, rótulos, caixas. E isso também é bem normal, nosso cérebro precisa catalogar algo para compreendê-lo, para se sentir confortável. E ai que está, a verdade é que nós não precisamos compreender tudo. Mas isso é incomodo, porque o desconhecido é desconfortante mesmo, dá medo. Além do mais como é possível que julguemos o que é diferente no outro, se não conseguimos enxergar aquilo que não conhecemos?
A impressão que tenho é que conectamos demasiadamente no que achamos que está ruim. Isso mais uma vez é compreensível, porque geralmente é o que está ruim que queremos mudar, que nos incomoda. Mas o ruim não passa de algo criado pela nossa sociedade, criado pelo que acreditamos que seja aquilo, e não pelo que ele realmente é. Minha irmã me ajudou muito nesse processo de tentar entender o outro, porque nós duas somos muito diferentes e eu tinha mania de apontar tudo que tinha de errado nela, é irônico o fato de que somos mais cruéis com aqueles que amamos mais e estão mais próximos de nós. Um dia ela me disse: não estou fazendo errado, apenas estou fazendo diferente de como você faria, porque eu sou diferente de você. Bingo!
E não me culpo e nem culpo ninguém, eu julgo, tu julgas, ele julga, nós julgamos… Realmente é extremamente complexo entender e mudar um padrão de comportamento, ainda mais quando ele vem também acoplado em todos que estão em sua volta, quando você é constantemente instigado e estimulado a tecer comentários e construir uma analise crítica de tudo e todos. Inclusive de nós mesmos. Inclusive desse texto.
Observando as crianças vejo que somos inseridos nessa “roda” em um nível muito mais precoce do que podemos imaginar, as crianças fechando o primeiro setênio já sabem julgar, dedurar, tirar sarro e se incomodar com tudo que lhes é estranho ou diferente. Nesse processo, claro, não cabe espaço para as coisas apenas serem, começando por nós mesmos.
Não sou tão sonhadora assim para acreditar que vamos um dia parar de julgar o que se apresenta para nós, mas com um pouco de esforço dá para mudar a sintonia, conectar na abundância, naquilo que é bom, nos inspira e deixar de lado um pouco essa mania que temos de sempre achar algo errado no outro e propagar isso. Também podemos tentar trabalhar no sentido de entender as polaridades e que elas também não passam de apenas um conceito. Sim algo pode ser bom e ruim, certo e errado, bom e mal. O que você vê só depende de que lado do prisma você está olhando.
Porque dessa maneira, conectados sempre na escassez, é isso que iremos atrair para nossas vidas, nesse sentido, falta tempo, falta dinheiro, falta amor, falta tolerância, e se acreditamos que tudo está em falta tudo sempre continuará a faltar. Ainda assim conectar na abundância não é conectar no perfeito, no demasiado, mas conectar no melhor de tudo, mesmo que o melhor não seja ideal, até porque ideal por si só diz, é uma ideia e, portanto, não existe.
E esse é o exercício diário que venho fazendo em minha vida, silenciar essa voz que sempre tem uma opinião sobre tudo e aprender a aceitar tudo como se apresenta, acho que mais ainda aprender a deixar para lá. Entender que nós não precisamos sempre falar tudo que pensamos, nem entrar no mérito de tudo, muitas vezes podemos apenas entender que tal coisa não nos fez bem e escolher deixar para lá. A morte do meu pai me ensinou a deixar muita coisa para lá. Essa é a beleza que existe em aprender mais sobre a finitude da vida.
Também podemos tentar aprender a enxergar os pontos de conexões que temos com todos em vez de conectar no pior de cada um. Esse foi um conselho de um grande amigo quando me queixei de que estava muito intolerante com tudo e todos. “Tati, nós sempre temos um ponto de conexão com o outro e provavelmente vários de desconexão, a escolha é sua!”. Tentar incorporar isso em nossas vidas e viver fora das polaridades é muito difícil, mas possível. Se uma pessoa faz algo que eu não gosto, não preciso acha-la de todo ruim, posso apenas entender que aprendi algo novo sobre ela e adicionar isso ao “pacote”.
Confesso que, como tudo na vida, tudo isso é muito mais bonito no papel do que no dia a dia, não tem sido uma tarefa muito fácil e muitas vezes não dá. E aprendi a ser mais gentil com minhas limitações. Mas a paciência também é uma virtude que tenho tentado acoplar ao meu pacote, e posso afirmar que já vi muita coisa na minha vida mudar desde que comecei a fazer esse exercício. What is, is. Let it be. Conecte no que tem de bom e não no que falta, na luz e não na sombra, e poderemos aos poucos transformar o Universo ao nosso redor. Aprenda a deixar sua luz brilhar e brilhe.
“O nosso medo mais profundo é nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.
Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados.
Nosso medo mais profundo é que somos poderosos além da medida.
É nossa luz, não nossa escuridão que mais nos assusta.
Nós nos perguntamos: quem sou eu para ser brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso?
Na verdade, que é você para não ser?
Você é um filho do Universo!
Bancar o pequeno não serve ao mundo.
Não há nada de iluminado em se encolher para que outras as pessoas não se sintam inseguras ao seu redor.
Nascemos para manifestar a glória do Universo que está dentro de nós.
Não é apenas em alguns de nós, está em todos.
E quando deixamos nossa luz brilhar, inconscientemente damos permissão às outras pessoas para fazerem o mesmo.
Quando nos libertamos do nosso próprio medo,
nossa presença automaticamente liberta os outros.”
~ Marianne Williamson
TATIANA NICZ- colunista CONTI outra
Libriana com ascendente em Touro. Católica com ascendente em Buda. É amante da natureza e das viagens. Aprendiz de fotógrafa, ou melhor, de registrar momentos com os olhos do coração. Curiosa. Educadora e contadora de histórias. Divagadora de todas as horas. Tem profunda fé no poder de mudança e transformação de todo e qualquer ser, mas para isso, temos que querer muito. Escreve nas horas vagas para aliviar cargas e compartilhar experiências. Possui metas ousadas: quer mudar o mundo começando por si.
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