Por Luis Gonzaga Fragoso
Cerca de dois anos atrás, tomei uma decisão radical: encerrar minha conta no Facebook.
Tudo isso aqui é muito fútil. Ninguém lê nada com mais de cinco linhas. As relações humanas são superficiais. São centenas de egos girando em torno da própria órbita. Tais foram minhas justificativas “racionais”.
Ao clicar em “desativar a conta”, percebi que havia duas opções: suspender temporariamente ou em caráter definitivo. Semelhante à pergunta: “Desquite” ou “divórcio”? A intuição me assoprou: escolha o desquite. Obedeci.
Bendita decisão.
Recusar a participar das redes sociais é um tipo de renúncia. É como tornar-se abstêmio depois de anos convivendo com o álcool. Ou tornar-se veg(etari)ano após ter consumido arrobas de carne bovina. Ou optar pela abstinência sexual depois de anos de convívio com a luxúria.
Lugar-comum na psicologia, mas vá lá: seja qual for a sua renúncia, ela cobra seu preço, geralmente alto – se você reprime algo, isso vai para o inconsciente. Você poderá passar o resto da vida com a fachada de uma pessoa virtuosa, mas estará sentado sobre um vulcão – que, cedo ou tarde, entrará em erupção.
Precisei de brevíssimos instantes (sábia intuição, que ignora o tempo, e nos aconselha, como Chico Buarque na canção: “Aja duas vezes antes de pensar”) para perceber que não há a menor necessidade de ficar numa extremidade do pêndulo. Se eu estava viciado no Facebook – praticamente um “crack” virtual –, é porque, de algum modo, isto aqui me preenche. Se as relações humanas não me satisfazem, aqui, o problema é meu, não dos outros. O problema é a expectativa que eu projeto sobre os outros e o mundo.
Acabo de ler, no site Contioutra, um texto que me dá uma chave para entender o mecanismo das trocas afetivas no Facebook: “Frequência afetiva, qual é a sua?”, de Eduardo Benesi.
Constatações bacanas que emergem a partir desta leitura: diante das coisas que compartilho, cada um de meus amigos virtuais terá uma reação singular, única. Claro que poderei ser ignorado, mas, muitas vezes, ele reagirá com o silêncio. Embora elas possam afagar o ego, as “curtidas” talvez não signifiquem grande coisa – um aplauso burocrático no palco virtual. É possível que, ao ler o seu post ou assistir ao vídeo que você compartilhou, ele esteja vibrando na mesmíssima frequência que você. No entanto, por uma razão que não cabe discutir, ele não comenta, não “curte”, jamais ou raramente compartilha o seu post. O que não quer dizer, absolutamente, que não houve uma sutil aproximação entre vocês dois; que os laços afetivos não foram discretamente estreitados. Há muitos que preferem observar a cena, em silêncio, a partir de seu canto, lá na arquibancada (admiro estas pessoas: precisamos de mais pausas em meio aos sons e ruídos). Se esta cena provocou uma vibração interna em alguém, isso vale mais do que mil “curtidas” ou que um comentário pseudo-entusiasmado.
Sinto que me aproximo sutilmente de várias pessoas no momento em que identifico uma sintonia fina entre elas e mim, por meio das postagens virtuais – se temos ou não encontros olho-no-olho, isso são outros quinhentos (e um assunto que rende outro texto). Num mundo em que um sem-número de encontros presenciais se dá apenas entre corpos físicos, com as almas a anos-luz de distância, isso não é pouca coisa.
LUIS GONZAGA FRAGOSO
Tradutor e Revisor
luisgfragoso@terra.com.br
Nota da CONTI outra: A publicação do texto acima foi autorizada pelo autor.
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