Quando eu recebi a mensagem da psicóloga Alana Mendes, de 55 anos, mostrando interesse em compartilhar sua história no blog, foi dessa forma que ela se apresentou:
“Olá,
Gostaria de contar a história da perda do meu único filho, quando ele tinha 21 anos, vítima de um tumor cerebral inoperável, extremamente agressivo e maligno. Quem sabe assim poderei ajudar a outras mães que passaram por essa dolorosa experiência.
Abraços,
Alana Mendes”
Na hora, pensei como deveria ter sido difícil para Alana enfrentar o que acabara de relatar, mas fiquei muito contente ao saber que alguém, por meio do blog, tinha o interesse de compartilhar sua história com o intuito de ajudar outras pessoas.
Alana conta que a morte de seu filho, o estudante de biologia Pedro, aconteceu em fevereiro de 2007, quando ele estava em viagem, realizando um de seus sonhos: passar seis meses em intercâmbio na Austrália.
Perto do fim da viagem, Pedro telefonou para a mãe queixando-se de muita dor de cabeça. Ele viajava para o Chile, foi internado em Santiago, onde foi dado o diagnóstico: glioblastoma multiforme, um tumor cerebral maligno, de alta agressividade e letalidade, localizado numa área inoperável.
“Um tsunami me pegou”, conta Alana. Ela foi para a capital chilena para acompanhar o filho. Voltaram para o Brasília no dia seguinte, a bordo de uma UTI aérea. Seguiram até São Paulo, em busca de especialistas renomeados. “Nada mudou. Internação, coma e morte. Meu filho se foi.”
A psicóloga relata que, apesar da tristeza (“a perda de um filho é uma dor inominável), não se desesperou. “Minha crença no Espiritismo, minha família e amigos foram o suporte para a travessia do período de luto. Meu marido foi, e continua sendo, o companheiro cuidadoso e amoroso de todas as horas, e um dos motivos da minha superação. Sei que nada nem ninguém irá preencher o vazio que o meu amado filhote deixou. Mas a vida continua, e eu tenho muitos motivos para prosseguir.”
“A aceitação daquilo que não podemos mudar é fundamental para que possamos refazer os nossos planos e retomar a caminhada. Não é fácil e é bastante doloroso, mas pode tornar-se cada vez mais difícil e insuportável se não tivermos fé nos desígnios de Deus, não aceitarmos ajuda e não nos esforçarmos para romper a couraça da dor”, diz.
E qual é o sentido da vida para Alana?
“Aprender a ser uma pessoa melhor com as experiências que ela nos proporciona”
Ela fez questão de ressaltar que sua intenção, ao relatar sua experiência, “é mostrar aos pais que perderam seus filhos que é possível sobreviver, quando aprendemos a conviver com a ausência do filho amado.”
Bom, já está dito pela Alana, mas reforço aqui a intenção dela e minha: caso conheçam alguém que tenha passado pela mesma situação, acho que pode ser bacana enviar a história dela! Quem sabe assim podemos ajudar outras pessoas?
Segue abaixo o relato da Alana:
“Tenho nome de princesa, Alana Maria Teresa Alves Dias Mendes. Sou psicóloga e tenho 55 anos. Sou a primogênita de um jovem casal que teve quatro filhos. O sobrenome Mendes é da família do meu marido.
Estou casada há 30 anos com o amor da minha vida. Nos conhecemos em João Pessoa, quando éramos universitários. Ele cursava engenharia mecânica, tinha 23 anos e veio transferido da Universidade de Brasília, cidade onde sua família residia. Eu estava com 20 anos, cursava psicologia e minha família morava em Campina Grande, a pouco mais de 100 quilômetros de João Pessoa.
Namoramos durante quatro anos e oito meses, casamos e tivemos o nosso único filho. Em 1987, mudamos para Brasília, onde moramos até hoje. A família do meu marido também mora em Brasília e temos amigos muito queridos.
Trabalho numa escola da Rede Pública de Ensino do Governo do Distrito Federal. Gosto muito da minha profissão e do trabalho com crianças.
Sou do tipo “falante”! Gosto de conversar, rir, dançar, sair com amigos e comemorar “tudo”. Amo viajar! Troco qualquer coisa por uma viagem. Mas, também amo voltar para a minha casa. Sinto saudade da minha cama, dos meus travesseiros, enfim, do meu “cantinho”. Sinto uma energia especial no meu apartamento. É o meu abrigo. Graças a Deus tenho um “Lar” onde me sinto segura e feliz com o meu amado companheiro.
Amo música, livros, filmes e minha coleção de São Francisco (tenho mais de 60). Estive em Assis e senti uma emoção indescritível.
O ‘tsunami’
A partida prematura do meu amado filhote, Pedro Victor Dias Mendes, ocorreu no dia 13 de fevereiro de 2007. E teve o efeito devastador de um tsunami.
Meu filho tinha apenas 21 anos. Estudava biologia na Universidade de Brasília. Era garoto alegre, extrovertido, com muitos amigos, inteligente, bonito e um filho maravilhoso. Pedro amava a vida e queria ser biólogo marinho.
Pedro tinha trancado a matrícula no quinto semestre do curso, para fazer intercâmbio na Austrália. O curso de inglês seria na cidade de Brisbane. Assim, em agosto de 2006, meu filho seguiu para realizar um de seus sonhos: passar seis meses na Austrália.
O retorno para o Brasília seria em fevereiro de 2007.
No dia 28 de janeiro, data do meu aniversário de casamento, recebi um telefonema do meu filho, em pratos, queixando-se de muita dor de cabeça. Ele estava na Nova Zelândia e viajaria para o Chile no dia seguinte.
Recomendamos a ida ao médico. Na ocasião, imaginávamos que seria uma enxaqueca. Oito jovens fazendo “mochilão” não se preocupam em se alimentar bem, muito menos dormir.
Ao chegar no Chile, Pedro apresentou sinais de confusão mental, continuou tendo dores de cabeça e vômito, apesar de medicado. Os seus queridos amigos o levaram para uma clínica, onde ele foi internado para a realização de exames.
Voei de São Paulo para Santiago, acompanhada da minha cunhada e de uma amiga querida, cujos filhos estavam com o meu menino. O diagnóstico já havia sido comunicado ao meu marido, mas eu o desconhecia. Me disseram que havia um “edema cerebral”, mas que estavam pesquisando a causa.
Meu alarme interno havia sido disparado!
Meu marido estava em Curitiba, a trabalho, seu passaporte estava vencido há poucos dias e seu RG tinha mais de 10 anos. Então, ele estava impedido de buscar nosso filho no Chile. Quando o médico me comunicou o diagnóstico, glioblastoma multiforme, um tumor cerebral maligno, de alta agressividade e letalidade, localizado numa área inoperável, um tsunami me pegou!
Voltamos para o Brasil no dia seguinte, a bordo de uma UTI aérea, acompanhados de dois médicos. Uma ambulância, equipe médica e um pai ansioso para ver o filho nos esperavam no aeroporto de Brasília.
Após dois dias de internação para mais exames, o diagnóstico inicial se confirmava, acompanhado da previsão de três meses de vida.
Seguimos até São Paulo em busca de especialistas renomeados. Nada mudou. Internação, coma e morte. Meu filho se foi.
‘Pedaço de mim’
13 de fevereiro de 2007, dia da partida do meu filho. A letra da canção “Pedaço de Mim”, do Chico Buarque, é a definição mais próxima do que senti.
“…..Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu
Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi…”
Uma tristeza dolorosa tomou conta de mim. Perdi meu pai quando eu tinha apenas 19 anos. Foi muito doloroso. Mas a perda de um filho é uma dor inominável.
Não me desesperei e não questionei os desígnios de Deus. Minha crença no Espiritismo, minha família e amigos foram o suporte para a travessia do período de luto. Meu marido foi, e continua sendo, o companheiro cuidadoso e amoroso de todas as horas, e um dos motivos da minha superação.
Sei que nada nem ninguém irá preencher o vazio que o meu amado filhote deixou. Mas a vida continua, e eu tenho muitos motivos para prosseguir.
Os ‘anjos’
Deus me mandou vários anjos para me conduzirem durante a “grande tempestade”. Fiz terapia, sou acompanhada por psiquiatra, continuo trabalhando e fazendo tudo que gosto.
Nunca esqueço que minha terapeuta me fez refletir sobre quem eu era antes de ser mãe e me fez ver que a maternidade não era o único papel que eu desempenhava na vida. A mulher, a esposa, a profissional, a filha, a irmã, a amiga e tantos outros, permaneciam comigo.
Lembro de ter dito ao meu marido que eu havia perdido um dos maiores “brilhos da vida”, mas que ainda restavam muitos.
Em um dos muitos livros que li, estava escrito que “quando os nossos pais morrem, perdemos o passado, mas quando um filho morre, perdemos o futuro”.
Com a partida do meu único filho se foram muitos dos meus sonhos. Não vi a sua formatura, seu primeiro emprego, seu casamento, sua esposa e seus netos. Mas, como diz a canção belíssima de Milton Nascimento: “É preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana sempre…”
A aceitação daquilo que não podemos mudar é fundamental para que possamos refazer os nossos planos e retomar a caminhada. Não é fácil e é bastante doloroso, mas pode tornar-se cada vez mais difícil e insuportável se não tivermos fé nos desígnios de Deus, não aceitarmos ajuda e não nos esforçarmos para romper a couraça da dor.
Minha intenção, ao relatar minha experiência, é mostrar aos pais que perderam seus filhos que é possível sobreviver, quando aprendemos a conviver com a ausência do filho amado.
Qual o sentido da vida?
Aprender a ser uma pessoa melhor com as experiências que ela nos proporciona.”