As temperaturas despencaram em várias cidades do nosso país. Em pleno outono, fomos surpreendidos por ventos que arrasaram cidades, chuvas que aniquilaram outras tantas, neve nas partes mais altas da Região Sul, geadas em áreas rurais, destruindo o fruto de meses de trabalho de inúmeros produtores agrícolas.
A natureza pode ser cruel em sua instabilidade e imprevisibilidade. Instabilidade gerada, em grande parte, por nossa maneira irresponsável de explorar seus recursos. O fato é que conseguimos ser ainda mais devastadores do que tufões, terremotos ou coisa que o valha, quando nos isolamos em nossa individualidade e passamos a tratar como “normais” as situações de risco e abandono a que são submetidos alguns de nós, mais desvalidos e menos favorecidos.
As baixas temperaturas, nos levam à imediata reação de buscar em nossos armários aqueles casacos mais grossos, os cobertores mais quentinhos, acolchoados, gorros, luvas e cachecóis. Simples, não é? Basta abrir uma gaveta ou uma porta e encontrar o alívio para o desconforto provocado pelo frio.
Como seria bonito se esse desconforto fosse o suficiente para acender dentro de nós um alerta para a dura realidade: ALGUNS DE NÓS MORREM DE FRIO! Assim, ao abrirmos nossas gavetas e portas de armário, podíamos também abrir nossos corações e tomarmos a iniciativa de dividir o muito que temos com aqueles que, muitas vezes, não têm absolutamente nada.
Em dias frios como esses que temos vivido, podíamos adotar o hábito de sair de casa com uma sacolinha contendo uma blusa, algumas meias, uma mantinha, um cachecol, um par de sapatos.
Afinal, temos muito mais do que somos capazes de usar. Aquelas peças de roupa esquecidas e desprezadas nos cantos de nossas casas podem, literalmente, salvar a vida de alguém; aquele alguém que cruzar o nosso caminho e estiver sofrendo com o frio.
Felizmente, alguns de nós olham mais para o entorno do que para os próprios umbigos. Alguns de nós, incomodam-se com o sofrimento dos próximos e dos distantes e se dispõem a fazer de suas vidas uma missão para honrar o título de “ser humano”.
A Associação Beneficente Benedito Pacheco (Reintegra Turma da Sopa), organização sem fins lucrativos e atuante no Terceiro Setor, surgiu em 1992 com a iniciativa de dois amigos que se sensibilizaram com a morte de pessoas em situação de rua causada pelo intenso frio de São Paulo. Nesta fase inicial, eram distribuídos cobertores e sopa às pessoas em situação de risco, mas logo se percebeu a necessidade de algo mais. A partir daí, criou-se uma estrutura e metodologia que trabalhasse o indivíduo, promovendo a sua saída da situação de rua e reinserindo-o na sociedade. A Associação em seus 23 anos de existência, conta com cerca de 70 voluntários ativos. Já reintegrou à sociedade mais de 1.076 pessoas em situação de rua, por meio de ações que envolvem cursos profissionalizantes, encaminhamentos para frente de trabalho, tratamento para dependentes químicos, emissão de documentos pessoais, tratamento dentário e oftalmológico, transporte e retorno à terra natal para o retorno ao convívio familiar, entre outros.
A Associação desenvolve o trabalho de reintegrar o indivíduo em situação de rua e ou dependência química à sociedade. A partir de colaboradores e doações, todos os dias trabalha para ajudar a quem precisa, devolvendo a esses indivíduos a sua autoestima, a crença na sua transformação e na possibilidade de traçar um novo trajeto.
O projeto Meias do Bem é uma iniciativa sem fins lucrativos da marca Puket que começou em 2013. A campanha une solidariedade e sustentabilidade em duas atitudes simples: a doação e a reciclagem de meias. A Puket convida todos para doarem aquelas meias usadas, rasgadas, manchadas ou sem pares. Essas meias que permanecem inúteis em nossas casas, podem ser entregues nas lojas da Puket. O interessante é que as meias recebidas passam por um processo de reciclagem e são transformadas em cobertores. São necessários 40 pares de meias para produzir um cobertor e a cada 40 pares doados, a Puket ainda doará um par de meia novinho a alguém que precisa se aquecer.
A ideia de trazer alívio a quem sofre é tão simples que pode nos escapar. Perdidos em nossas rotinas e focados em nossas próprias mazelas ou necessidades, acabamos por ignorar os outros. Mas, sempre dá tempo de criar coragem e buscar lá no fundo aquela capacidade de tratar a dor alheia como algo que dói dentro de nós também. Façamos a nossa parte, sem julgar ninguém e sem esperar que alguém nos aplauda. O mundo agradece!
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