Por Diego Engenho Novo
Joãozito é cheio dos dizeres interessantes. Dia desses todos chorávamos as pitangas quando ele anunciou “Meu fundo do poço não tem mola, gente, no fundo do meu poço tem um ralo. Ou seja, quando eu chego no fundo do poço, ainda desço pelo ralo e entro pelo cano”, exagerou enquanto todos riam. E eu só conseguia pensar: o que tem lá, no fundo do meu poço?
Quando estou afundando, caindo, não costumo pensar muito nisso. A gente só consegue pensar em como foi parar lá, em queda livre. Uma resposta mais torta de quem amamos, um não que vem no lugar do sim que andávamos precisando, um ato ingrato, tudo vai alargando a boca do poço. Nossa insistência em negar o óbvio, nossa fé exagerada em quem não merece outra chance, nossos desejos vazios que alimentamos como quem enche uma peneira inteira de água. Burrice.
A gente alarga, cava, ensaia o salto, dança na borda, a gente pede pra cair e cai. Se pararmos pra pensar, no fundo de todo poço há uma verdade, que teimamos em negar, para a qual viramos as costas, como se fosse possível evitar o que se mantém desconhecido. De fato é terrível cair, mas a cada dia me parece mais certo que a melhor forma de sair do poço é entendê-lo. No final de todo poço há um reflexo de nós mesmos.
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