Por Lúcia Costa
Aquele menino tinha uns quatro anos. Descobriu que era espacial bem mais que especial. O Mundo era estreito e as pequenas rodas de sua bicicleta percorriam seu universo em segundos. Adorava pedalar, mas estava exausto de sair de nenhum lugar para lugar nenhum. Queria velocidade. Queria um fusca igualzinho ao do pai.
Os pais riram daquela decisão quase ordem do pequeno. Era uma graça constante. Era uma criança-instante. Era uma garça ao volante. Sonhava em morar com os pássaros. Desejava casar com uma mulher que lhe desse beija-flor ao invés de filho. Paulinho adormecia em rosas e acordava em cama de madeira com o colchão todo molhado. Defendia-se:
_ Não fui eu. Foi o jardineiro. Ele disse que meu jardim só pode receber água à noite.
E por essa ia se passando.
Um dia, Paulinho já desesperado pelas avenidas que não conhecia, entrou no fusca enquanto o pai o lavava, soltou a marcha e saiu descendo ladeira abaixo. O frio que lhe invadiu o estômago alimentava as borboletas que moravam por ali. O medo era um desconhecido de máscara. O veículo oscilava, montanha-russa andante e sem direção. Por segundos, estar sem curso exercia uma fascínio em Paulinho; achava que aquele carro iria levantar voo.
E levantou!