Por Octavio Caruso
Ainda que não seja necessário, recomendo que a leitura da obra seminal de F. Scott Fitzgerald sobre a fragilidade do “Sonho Americano”, anteceda a sessão do filme. A mais famosa versão cinematográfica até o momento era a protagonizada por Robert Redford, que fracassava em diversos aspectos, inclusive como adaptação. Baz Luhrmann acerta onde todos erraram, demonstrando entender perfeitamente a essência do livro, incorporando-a ao seu próprio estilo de rebeldia elegante, que combina perfeitamente com a proposta do autor.
Nick Carraway (Tobey Maguire) e Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio) representam facetas antagônicas da personalidade do autor: o tímido e respeitoso jovem que se deslumbra com os excessos da alta sociedade e o homem seguro, que utiliza seu carisma e posses para impressionar a mulher que deseja. No meio do fogo cruzado, Daisy Buchanan (Carey Mulligan), personagem parcialmente inspirada em Zelda, esposa do autor, escrava de seu amor pelo enriquecimento material, porém indiferente à afeição humana, uma caricatural crítica aos valores amorais da aristocracia da América dos anos 20.
Todos os personagens utilizam as pessoas como peões nos tabuleiros de seus desejos, descartando-as como se nada valessem, após o cumprimento de suas funções em seus planos. Gatsby talvez seja o único que não tenha sido corrompido pela sua riqueza, pois a utiliza objetivamente para galgar os degraus que o encaminham ao seu sonho pessoal. Ele não necessita de todo aquele luxo, conseguiria se destacar até mesmo na pobreza. Fitzgerald, captado com maestria por Luhrmann, aponta o dedo para a banalização dos valores humanos, na incessante busca pelo ilusório status que advém do sedutor e corruptível brilho do ouro.
O diretor exercita seu estilo, misturando música contemporânea, como o hip-hop que emoldura nosso primeiro vislumbre da fictícia cidade e o primeiro encontro de Carraway com o mundo boêmio, e canções da época, como a espirituosa “Let´s Misbehave”, de Cole Porter, além de utilizar generosamente o auxílio da computação gráfica nos exteriores, o que realça o tom de artificialidade que envolve a trama e os personagens. Interessante também é a forma como o roteiro utiliza de forma inteligente a inalcançável luz verde do píer, elemento importante no livro, como um tema visual recorrente, que simboliza o desejo de Gatsby por alcançar Daisy, prendê-la em seu mundo. “O Grande Gatsby” é um filme que deixaria seu autor orgulhoso.
Carioca, apaixonado pela Sétima Arte. Ator, autor do livro “Devo Tudo ao Cinema”, roteirista, já dirigiu uma peça, curtas e está na pré-produção de seu primeiro longa. Crítico de cinema, tendo escrito para alguns veículos, como o extinto “cinema.com”, “Omelete” e, atualmente, “criticos.com.br” e no portal do jornalista Sidney Rezende. Membro da Associação de Críticos de Cinema do Rio de Janeiro, sendo, consequentemente, parte da Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica.
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