Por Nara Rúbia Ribeiro
Você já se viu assombrado, atônito, dominado pelas sombras do seu próprio intelecto? Já teve pensamentos que reconhece serem descabidos, exagerados e até bizarros, mas que se sentaram diante de você e lá ficaram contemplando a sua face o dia inteiro de modo a não permitir que você os esquecesse? Para tentar se livrar desses pensamentos, você já criou rituais como conferir certo número de vezes se trancou a porta da sala, lavou as mãos repetidas vezes, bateu na parede toda vez que escutou determinada palavra porque, caso não o fizesse, cada um da sua família correria risco de morte? Você percebe que aqueles pensamentos são irracionais e inconvenientes, contudo, o quanto mais pensa que deve esquecer, mais se lembra de tudo deles?
Então, “O Homem que não conseguia parar: TOC e a história real de uma vida perdida em pensamentos“ foi publicado especialmente para você. Trata-se de uma obra do escritor e jornalista David Adam, publicado este ano, no Brasil, pela Editora Objetiva. Escrito em linguagem acessível e bem humorada, é fruto da busca de respostas para o seu próprio mal, uma vez que sofreu, por 20 anos, as inconveniências do TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo.
Pessoas que realmente desenvolvem quadros de TOC podem gastar até seis horas por dia em suas obsessões e quatro horas em suas compulsões em busca de alívio. Desvia-se então toda a energia vital para pensamentos fixos e suas variáveis em um quebra-cabeças mental de como não contaminar-se por uma doença, não agredir alguém ou mesmo se está suficientemente limpo. A complexidade dos sintomas e sua mistura entre real, imaginário, culpa, rituais e vida prática é tanta que a aceitação e busca de ajuda pode levar até dez anos.
Os profissionais que trabalham na área sabem que não faltam exemplos de compulsões. Muito além de comer unhas, as pessoas podem arrancar cabelos e até comê-los (ou só os seus bulbos), falar palavras obscenas, tocar partes do corpo, entre milhares de outras coisas. Não existem limites nem para a invenção aplicável em um ritual de alívio e muito menos para suas consequências.
O livro narra, ao lado do drama pessoal vivido pelo escritor, que tinha medo de ser infectado pelo vírus do HIV, a infelicidade de diversos outros como o caso da jovem que comeu as paredes da própria casa, os jovens que morreram soterrados no lixo que eles próprios acumularam, compulsivamente, em sua casa ou o jovem brasileiro que ficou cego em um ritual de tocar suas órbitas oculares constantemente.
O livro alerta-nos ainda para a real necessidade de não nos permitirmos estacionar nesse lado escuro da mente, onde os pensamentos nos invadem e nos paralisam, bem como a procurar ajuda especializada para o enfrentamento desses sintomas.
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