Muito se fala sobre as possibilidades de se viver mais e melhor promovidas pelos avanços da ciência e da medicina. Não existe mais nenhuma dúvida sobre o fato de que os jovens saem cada vez mais tarde de casa e se casam mais velhos do que há trinta anos. Com isso, passou a ser dito que a faixa dos cinquenta anos representa, atualmente, o mesmo que os quarenta anos do passado. Ou melhor, é possível dizer que a vida começa aos 50!
As moças sempre tiveram um quê de cisma com a idade. Durante um período querem se mostrar mais velhas e em outro momento desejam controlar o tempo. Como um observador do comportamento feminino, digo sem medo de errar e também sem falar nenhuma novidade, as garotas sempre amadurecem antes do que os rapazes. Depois, ganham contornos mais definidos do que querem, mas se tornam, na maioria das vezes bem mais interessantes.
Do alto (não pela altura) dos meus mais de cinquenta anos, observo que as moças da minha geração andam diferentes. Ou será que agora eu as enxergo com mais atenção? Encontro mais sutilezas, menos peso nos ombros, mais cuidados, e menos afirmações de que os interesses diminuíram. Ao mesmo tempo em que sabem se defender muito bem, já estão treinadas para o ataque também, mas sin perder la ternura, jamás!
Dissolveram-se os sentimentos de culpa e as dúvidas tão comuns, como batalhar uma carreira ou se dedicar à criação dos filhos. Diminuiu a ansiedade de dar conta de relacionamentos e família. A cabeça está mais bem resolvida em relação aos assuntos mais importantes e o corpo demonstra isso.
A ditadura da moda anda um pouco mais flexível e, aparentemente, os (as) estilistas entenderam que existe uma outra consumidora que também quer se mostrar, ou ainda melhor, fingir que se mostra, como bem ilustra a jornalista Lu Catoira.
Não me refiro à sarada que corre na praia e bate ponto diário na academia, piloto de testes de todos os produtos cosméticos, naturais ou não. Falo daquela que viveu a vida normalmente, com alegrias, tristezas, realizações e frustrações, que já não se incomoda em se fazer tantas cobranças. Mesmo quando elas ainda se impõem, como o eterno malabarismo entre trabalho e filhos, essa mulher sabe se virar com dignidade e sabedoria, mesmo que às vezes tenha que recorrer a algumas pitadas de malícia.
Ocuparam todos os lugares. Não se restringem a ficar em casa se lamentando da chamada “síndrome do ninho vazio”. Fazem parte da vida corporativa, conduzem negócios próprios, ocupam gerências de bancos e — por que não? — algumas até encontraram tempo para flanar nas praias e shoppings. Nas academias, não são mais aquelas que chegam cedo demais e vão embora antes do movimento. Frequentam o horário nobre. Não se furtam mais de fazer brincadeiras e abrir sorrisos marotos. Não acreditam que a vida entrou no segundo tempo do jogo. Aproveitam intensamente cada momento do presente.
Não canso de admirar amiga de longa data que continua correndo os mesmos oito quilômetros diários. Reparo agora, porém, que agora ela cumpre o percurso sem a preocupação de olhar para os lados. Segue concentrada, como quem sabe perfeitamente bem aonde quer chegar. Ocorre-me então que as mais jovens deveriam se precaver. Uma “bola dividida” com essa mulher mais experiente pode provocar machucados invisíveis, mas bem doloridos.
O Rio de Janeiro poderia ser vilão, afinal com o calor que faz por aqui e com a desinibição das mais novinhas, as moças de meia idade poderiam ficar retraídas. Não é o caso. Envergam com desembaraço e elegância shorts, leggings mais justos e bermudas nas caminhadas pela orla ou nos parques.
Outro dia vi uma reportagem na televisão sobre as mulheres que estão prestes a completar, ou recém-completaram, quarenta anos. Fiquei admirado com o que detectei como falta de certa serenidade, pois a preocupação com a estética pareceu-me exagerada. Entendo que exista o desejo de corresponder ao padrão da época, mas como disse anteriormente, controlar o tempo é uma tarefa inglória.
Aqui abro rápido parêntese. Não há como não admirar a beleza clássica de uma Luiza Brunet ou a mais intimidadora de uma Demi Moore, é verdade. Mas é encantador me deparar diariamente com mulheres como tantas outras, encarando o cotidiano com um charme discreto e atemporal. É algo que me chama muito a atenção.
Assim como dizem sobre os moços da minha idade que “homem sem barriga é um homem sem história”, afirmo categoricamente que algumas ruguinhas, manias, preocupações e quilinhos não colocam minhas contemporâneas em desvantagem. Pelo contrário, elas sabem como ninguém tirar partido de seus novos atributos para conquistar, apaziguar e dar alegrias.
Texto de Mauro Giorgi
Fonte indicada: Tudo sobre tudo
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