No dia 19 de dezembro vamos fechar, Bruno e eu, um ano fora de uma rotina fixa de trabalho. Exatamente no dia 19 de dezembro de 2014 é que nos despedimos de nossos antigos colegas, de nosso antigo trabalho e iniciamos esta jornada transformadora. Não viajamos imediatamente para o Uruguai, ficamos praticamente um mês e meio em Brasília nos organizando, nos despedindo, nos preparando para nosso projeto de vida nova. E no dia 07 de fevereiro desembarcamos em Montevidéu.
Recordo claramente a conversa que tivemos enquanto esperávamos nossas bagagens no aeroporto…sentíamos algo estranho, a viagem tinha sido curta demais, viajamos para um local que já conhecíamos. De imediato não sentimos nenhuma sensação incrível e mágica de libertação. Mal sabíamos que essa jornada seria muito mais de descobrimentos intrínsecos, mentais e psicológicos do que realmente de descobrimentos de vida prática. Não que viver e trabalhar sem ter um trabalho fixo, com hora fixa, em um país diferente não sejam desafios importantes. Mas, o lado emocional com certeza demandou muito mais de nós mesmos neste primeiro ano.
Obviamente, não tínhamos a mínima ideia de tudo que iriamos vivenciar. Traçamos alguns panoramas, nos planejamos financeiramente, enfim, garantimos algumas questões básicas para nos sentirmos seguros. Mas, desde os primeiros dias, percebemos que tudo que havíamos imaginado não chegaria aos pés do que iriamos viver. Fazendo o balanço, acho que, eu, particularmente, sonhei um pouco alto demais. Viajei com a cabeça sintonizada com a versão romântica de nossa aventura. Eu achava que ao mudar de rotina, de país, de vida, um sentimento energizante e contagiante iria tomar conta de mim. Que os dias seriam vivenciados com esse sentimento gostoso de liberdade e realização. Imaginava que teríamos desafios, mas, não previ que esses desafios seriam tão psicológicos.
Se nossa atitude de mudar de vida foi acertada? Posso dizer que foi 100%. Não me arrependo, não volto atrás e independente do que nos reserve o futuro, essa mudança nos transformou para sempre. Não tem volta! E não tem volta simplesmente pelo fato de que novos caminhos mentais foram traçados, novas perspectivas foram adquiridas, algo como um novo filtro está presente em nossos olhares. A vida está estranhamente com outras cores. Nem mais vívidas, nem mais obscuras. Cores instigantes! Cores que ainda vamos desvendar. Quem somos hoje não tem absolutamente nada a ver com quem éramos há praticamente um ano. Por mais piegas que isso possa parecer, é a mais pura verdade.
O mais incrível desse nosso movimento foi justamente constatar que a mudança de país foi interessante, mas, que a reconstrução de nossa vida foi engrandecedora. Quando você precisa desconstruir suas rotinas, seus hábitos e reconstruir seus padrões de funcionamento com liberdade e um alto grau de autonomia, o chão treme, você hesita, oscila, tem dúvidas…criar essa nova vida se torna algo bastante demandante. O ato de criar te faz descobrir muitas facetas suas que antes ficavam adormecidas. É como quando você começa a se exercitar depois de muito tempo sedentária. Alguns músculos há muito inutilizados voltam a funcionar e com eles vem um pouco de dor. Você não sente a dor no momento em que está malhando, sente ela no dia seguinte, nas 48 horas posteriores e, se vacilar, ela fica presente por muitos dias.
Você se redescobre! Suas fraquezas ficam mais escancaradas. Não tem para onde fugir! Mas, em contraponto, as fortalezas se tornam mais sólidas. Você passa a ter mais segurança em suas convicções. Você sente que não precisa mais sentir medo. Tudo que nos desafia, nos instiga…nos transforma. O ato de criar uma nova vida nos dá poder, confiança em nós mesmos simplesmente pelo fato de que nos superamos e nos responsabilizamos pelos acertos e erros. Criar uma nova vida é ter a possibilidade de descobrir novos “eus” que habitam em nós.
Claro, falta ainda um mês para fecharmos um ano longe de nosso padrão de vida antigo. Com certeza nesse próximo mês vamos vivenciar muita coisa ainda. Mas, uma coisa eu tenho certeza, não há maior sensação de liberdade do que descobrir-se e superar-se nessa aventura fascinante que é a vida.
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