Viver ao lado de um “reclamão” é um verdadeiro teste de paciência. A pessoa que já se habituou ao modo “queixa contínua” vai perdendo a capacidade de ouvir-se, de refletir sobre a situação que vive e de resolver os problemas que aparecem, por mais simples e corriqueiros que sejam.
Reclamar, todo mundo reclama. Aliás, é dificílimo passar um dia inteirinho sem fazer nenhuma reclamação. Você já tentou? Se ainda não tentou, tente. É uma experiência no mínimo reveladora, porque a gente simplesmente não tem noção do tanto de vezes que abre a boca para soltar lamúrias num prazo de vinte e quatro horas.
Reclamamos do calor, do frio, da chuva, da falta dela, do fim de semana que passou depressa demais, do nosso peso, da falta de dinheiro, do excesso de trabalho, do parceiro que podia ser mais atencioso, dos filhos que podiam ser menos trabalhosos, dos políticos (essa aqui vai ser difícil pra &%#@*§ de evitar!). Enfim, reclamamos até para puxar assunto com um estranho na fila do supermercado “Nossa como estão caras as coisas, hein?” e outro responde “Sim! Tudo pela hora da morte!”.
O fato é que essa ruminação verbal não vai tirar a gente do sufoco financeiro, não vai mudar os ponteiros da balança, não vai provocar uma brisa natural nos nossos cabelos para aliviar a temperatura de um dia quente, não vai fazer desaparecer aquele lugarzinho do capeta no Planalto Central (isso é realmente uma pena!).
Viver reclamando não vai adiantar de nada e ainda vai deixar a gente mal-acostumado em relação a tudo o que nos incomoda, porque a nossa mente entende que uma vez feita a reclamação – mesmo que ninguém tenha escutado – é como se tivéssemos feito algo a respeito daquilo que originou o desejo de reclamar; nosso foco fica perdido nessa cantoria repetitiva e inútil, e deixa de ser direcionado para uma tomada de consciência assertiva acerca do problema.
O fato é que reclamar faz parte daquele grupo de ações que fazemos no piloto automático. A reclamação é nossa reação impulsiva como resposta a uma situação desagradável, incômoda ou dolorosa. É quase impossível resistir ao impulso de reclamar.
E me arrisco a declarar que não deve haver cura definitiva para esse mal, porque além das reclamações explícitas, há aquelas que vêm disfarçadas de críticas ou opiniões. Fora o tanto de vezes que a gente lamenta a própria sorte só em pensamento, sem proferir uma única palavra.
Pois é… Acontece que quem manda no que a gente pensa é a gente mesmo. E se houver um desejo verdadeiro para mudar esse padrão de comportamento “mimimi”, algum avanço a gente há de conseguir, não é mesmo?
Quem sabe a gente não para de ser tão submisso às nossas manias inúteis e parte para uma postura mais atuante. Olha só… vou propor aqui um singelo exercício: toda vez que vier aquela frase pronta de queixa na sua boca, deixe que ela saia e anote o teor da reclamação num papel; faça isso por um dia inteiro.
Antes de tomar seu banho da noite – aquele que tira a “inhaca” do dia de labuta e envia você cheirosinho para o ninho -, leia a sua listinha lamuriosa. Analise cada item com calma e distanciamento. Questione sobre cada uma das queixas: É legítima? Posso mudar isso? Como? Anote também as respostas no papelzinho e vá dormir.
No dia seguinte… acorde determinado a solucionar – ou pelo menos tentar – as que tem jeito; e as registre numa outra lista: o rol das “proibidas”, ou seja, proponha-se firmemente a não reclamar mais dessas coisas; proponha-se a agir para mudá-las. As que não têm jeito de sumir, com certeza podem ser olhadas com outros olhos, e de repente você consegue descobrir que ao reclamar delas só as alimenta, e nada mais.
Por fim, seja bacana com a sua própria pessoa e dê a si mesmo um presente: cada vez que cair na tentação de reclamar, pense em algo pelo que possa agradecer. Sua mente é muito esperta e flexível, pode acreditar. E de tanto agradecer, você vai acabar descobrindo que andava reclamando apenas porque não se dava o direito de olhar para o quanto você é uma criatura de sorte!
Imagem de capa: personagem Roz do filme Monstros SA