Por Nara Rúbia Ribeiro
Todo mundo tem medo. O que poucos sabem é que o medo é um gigante menino. Tem tamanho, tem porte, mas ele sempre aceita convites para brincar. Se você o convida e o coloca em seu time, ele joga muito bem.
Há quem tenha medo de correr e se cansar muito. Medo de ficar parado e deixar as oportunidades fugirem entre os ponteiros do tempo. Medo de chorar e parecer fraco. De rir muito e a alegria ser pouca, ou já estar com prazo de validade vencido. Tem medo de ficar sozinho. Medo de multidão. Medo de dizer demais, de dizer de menos, de dizer o que não deveria dizer ou dizer de modo indevido o que deveria ser dito.
E há quem tenha medo de perder. Há quem tenha pavor de vencer, porque o sucesso pode ter lados sombrios que a alma desconhece e não quer conhecer. Há quem tenha medo do sol, da chuva, do marasmo, do maremoto.
E há os que possuem o medo, e aqueles que são possuídos por ele.
Os que o possuem o convidam para brincar. Fazem com que ele jogue a seu favor. Some pontos: instigue, alerte, faça com que o treino e o cuidado sejam dosados na medida necessária da ousadia requerida em cada novo desafio. Nada como ter esse gigante em seu time e fazer a vida acontecer assim: com medo mesmo!
Eu tenho medo do ameno, da esperança à meia asa. Tenho medo do que não se doa, daquele que não voa e até vê, mas pouco demais se enxerga.
Tenho medo que o mundo pereça à margem do paraíso por só querer saber de certezas. Mas por mais que eu tema, eu chamo o medo para brincar. Ele joga em meu time e quem escala os jogadores sou eu. Vez em quando ele entra em campo, ora fica no banco, ora nem escalado é e assiste o jogo da arquibancada.
Pois estagnar-se no temor da vida é um desviver. Amornar a existência por acovardar-se da fervura da dor, da ânsia da incerteza, do frio da indiferença; acovardar-se da glória ou da derrota, é o mesmo que dizer: “viver é muito perigoso, melhor suicidar-me”.
Aqueles que são dominados pelo medo são incapazes de entrar em campo e, na linguagem futebolística, “dar o melhor de si”. E a vida perdoa e muitas vezes até coroa quem luta e perde, mas ela não pode insistir naquele que desistir.
Goiânia, 15 de janeiro de 2015
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