Em um país muito longe daqui, onde o frio é forte e impera, todo bebê nasce e já ganha o seu cobertorzinho. Esse cobertorzinho o acompanhará por toda a sua jornada até a idade adulta. O tecido é aconchegante e macio, quente e envolve a criança, sanando suas necessidades de calor e proteção nas noites gélidas e escuras.
O pequeno corte desse tecido de inverno, entretanto, não acompanha o crescimento da jovem alma que rápido se desenvolve. E, tempos depois, já vemos os pezinhos quase descobertos.
Os pais, conhecendo a necessidade dos filhos e a tradição de seus ancestrais, improvisam como podem: cortam pedaços de seus antigos cobertores, e com eles fornecem calor, afeto e história para o ser que cresce. Às vezes, o tecido é velho e puído, mas, tem cheirinho de amor. Em outras, é mais fino, mas, traz cores de alegria. Outras ainda são um pouco mais ásperas e até espetam, mas, a criança sabe que, se achar a posição correta e deitar sobre aquele pedacinho, ele pode ser o mais quentinho.
A criança continua crescendo e lá vêm os avós, tias e primos, cada um com sua contribuição. Vermelho, amarelo, xadrez. Verde, azul e violeta. Por mais simples que seja a família, sempre aparece mais um paninho.
Sob esses tecidos e protegido por eles, a criança cresce forte e segura, assim como acolhe a doação de quem faria qualquer coisa para cuidar dos seus.
Ao anoitecer. vemos uma criança deitada em seu mundo encantado, facetado e multicolorido, onde cada um que podia emprestou um pouco do que tinha.
Um belo dia, sem que ninguém espere ou saiba o momento, aquele que até hoje apenas recebeu, vai até um canto de sua casa e corta um pedaço do seu querido cobertor.
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