O mundo que a gente não quer

A bestialidade humana  é a maior das tragédias. Comete-se toda a sorte de crimes e atrocidades em nome de uma justiça particular, de vingança, cobiça, afirmação, religião, poder.

Todas as expressões de covardia são desprezíveis, indignas, abomináveis.

Mas, é preciso te cuidado ao falar, ao externar decepção, revolta, desapontamento diante dos fatos. O mundo que a gente não quer é o mesmo mundo que deixamos a nossa contribuição.

É preciso cuidado com a parte que nos cabe, mesmo sendo ela uma mínima fração, ao primeiro olhar desatento.

É preciso cuidado até para falar da dor que a gente não entende, não sabe a magnitude, não tem a sensação na própria pele, não sabe como se formou.

As manchetes angustiam a nossa alma, a dor cresce e aperta os sentidos. Viver entre covardes que, entre irresponsabilidades, crenças, culpas e libertações, colocam as outras vidas na condição de abate e descarte, é insuportável, é sofrido, dolorido, massacrante.

Como lidar com isso? Qual é o nosso posicionamento diante de tudo que nos chega? Tenhamos cuidado, pois expressões pública de repúdio não nos exime de uma responsabilidade que é muito maior. Se é para lidar com isso, é preciso muito mais do que aderir aos movimentos de cores e bandeiras.

É imperativo tomar um pouco do tempo para explicar aos filhos, contar-lhes o que sabemos, amainar os sentimentos de ódio e desesperança que nos invadem.

Não podemos correr o risco de sermos engajados nas redes sociais e alienados na vida, fazendo as catarses para o público e logo após nos distraindo, e, voltando indolentes aos pequenos e individuais interesses.

O mundo que a gente não quer é recheado de injustiças, mas também, e arrisco dizer que até mais, de solidariedade, de boa vontade, de iniciativas positivas, de dedicação e altruísmo. E que isso seja um apelo maior do que as dores que as notícias nos mostram em sequências de horrores. E esse é o mundo que a gente quer, mas não consegue sequer enxergar.

O mundo que a gente não quer é um punhado de ganância e ignorância.

Não sejamos portanto, propagadores dessa publicidade negativa. Se não pudermos ser agentes da transformação, que também não façamos o papel de mensageiros da morte e da dor.

Emilia Freire

Administradora, dona de casa e da própria vida, gateira, escreve com muito prazer e pretende somente se (des)cobrir com palavras. As ditas, as escritas, as cantadas e até as caladas.

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