O oposto de depressão não é felicidade, mas vitalidade

O escritor americano Andrew Solomon está certo ao afirmar que “o oposto de depressão não é felicidade, mas vitalidade”.

Em palestra para o TED, datada de outubro de 2013, o autor compartilhou algumas experiências pessoais da época em que ele sofreu do mal dos séculos: a depressão.

Solomon relata que, no ano de 1991, sua mãe morreu, e um namoro que mantinha há anos terminou abruptamente. Mas ele passou incólume por essas experiências traumáticas.

Em 1994, no entanto, Solomon viveu o pior ano de sua vida. Por nenhuma razão aparente, ele se viu desinteressado por tudo. Nada do que fazia antes lhe proporcionava satisfação e prazer. As coisas perderam total sentido. Sua vitalidade desapareceu. E o pior: ele não sabia o por quê.

No decorrer daquela época de profunda depressão, Solomon até melhorava por um tempo, mas depois tinha recaídas, como um viciado em ciclicidade constante. Enfim, chegou um ponto em que ele permaneceu estável psicologicamente. Ganhou mais confiança e autonomia. Recuperou sua autoestima e vitalidade. Hoje, ele sente apenas gratidão por estar bem, apesar de saber que a depressão, após ser manifesta pela primeira vez, se torna uma característica imutável.

Depressão: um segredo que compartilhamos

Para muitas pessoas que sofrem dessa doença espectralmente tortuosa, é quase impossível explicar, de todo, o que acontece. “Na depressão, a falta de significado de cada empreendimento e de cada emoção se torna evidente”, ressalta Solomon.

A depressão é um chacal ocioso que habita a mente de todos nós. A diferença está na disposição: uns dormem mais do que outros.

As pessoas acometidas pela depressão se encontram em estado de nulidade. As emoções ficam congeladas. O ânimo se esvai, restando apenas apatia.

De acordo com Solomon, há três coisas que as pessoas costumam confundir: depressão, mágoa e tristeza.

“Mágoa é explicitamente reativa. Se perdemos alguém e nos sentimos muito infelizes, e seis meses mais tarde, ainda estamos tristes, mas começamos a reagir um pouco melhor, provavelmente é mágoa, e ela acaba por passar sozinha, seja como for. Se sofremos uma perda catastrófica e nos sentimos mal, e seis meses depois não conseguimos reagir nem fazer nada, provavelmente é uma depressão, causada pelas circunstâncias catastróficas. A trajetória do caso nos diz muito.”

As pessoas pensam que depressão é apenas sentir-se triste, magoado, chateado. É a mais escrota banalização possível. A depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo. As pessoas morrem por isso mais do que por qualquer outra coisa.

O deprimido se sente ridicularizado, pormenorizado, insignificante e, principalmente, vitimizado. Pensa que o mundo inteiro está contra ele, quando, na verdade, o mundo segue adiante, sem esperar por ninguém.

Algumas pessoas, ao se depararem com alguém deprimido, oferecem amor, mas elas se esquecem de que a depressão eclipsa a capacidade de reciprocidade afetiva. Ocorre uma espécie de subtração emocional. Faz-se cada vez menos, pensa-se cada vez menos, sente-se cada vez menos.

O senso comum diz que a pessoa depressiva “enxerga as coisas em preto e branco”. Porém, Solomon explica que não é exatamente assim:

“Numa depressão, não pensamos que colocamos um véu cinzento e estamos a ver o mundo através da neblina de um mau humor. Achamos que retiraram o véu. É mais fácil lidar com esquizofrênicos, que acham que há algo de errado com eles, do que com depressivos, que acreditam estar vendo a verdade. Mas a verdade mente.”

Ao longo de sua carreira como escritor, Solomon entrevistou uma série de pessoas que sofrem de depressão, e pôde aprender muito ouvindo as experiências alheias. Ele percebeu que, em geral, as pessoas depressivas têm muitas percepções delirantes. Acham que não são amadas, e que não valem nada. São pessimistas e, através do olho da mente, enxergam imagens terríveis, fantasiando finais trágicos e consequências desoladoras.

“Na maior parte das vezes, o que elas exprimem não é uma doença, mas uma visão.”

O indivíduo depressivo é como alguém que se vê completamente perdido em alto mar durante uma severa tempestade. Atormentado, até enxerga uma possibilidade de salvação, mas sucessivas ondas de medo o engolem. Quando, enfim, ressurge à superfície, ouve, aterrorizado, os relâmpagos de seu próprio desespero. Como descreve Solomon:

“É a sensação de ter medo o tempo todo, sem sequer saber o que se teme.”

Depressão tem cura mas, muitas vezes, essa cura é mais filosófica do que química. Terapia, medicamentos e outros métodos da medicina moderna podem ajudar, e certamente ajudam, mas não são a solução definitiva. Essa doença é um componente da personalidade dos depressivos; os depressivos não são a doença.

Na opinião de Solomon:

“Os tratamentos que temos para a depressão são terríveis. Não são muito eficazes. São extremamente caros. Têm inumeráveis efeitos secundários. São um desastre. Mas sinto-me muito grato de viver hoje, e não há 50 anos, quando não havia quase nada a fazer.”

Hoje em dia, diz Solomon, há um falso imperativo moral que diz que o tratamento da depressão, a medicação e todo o resto são um artifício, e que não é natural.

Realmente, muitas pessoas são temerosas acerca dos tratamentos disponíveis para a depressão. Elas têm medo de que medicamentos, por exemplo, alterem a forma como se age e pensa, e receiam que tais remédios as transformem em um ser desconhecido. Contudo, a maioria dessas mesmas pessoas se automedica regularmente contra todo um azar de dores e problemas; usam drogas lícitas ou ilícitas e não se preocupam com os efeitos colaterais. Trata-se de uma contradição.

Segundo Solomon, embora não previna contra a depressão, o amor é o que tranquiliza a mente e a protege de si mesma. Medicamentos e psicoterapia podem renovar essa proteção, tornando mais fácil amar e ser amado, e é por isso que funcionam.

Para o autor, ter a capacidade de estar triste e de ter medo, de estar alegre e de ter prazer, e de todos os outros sentimentos que temos, é incrivelmente valioso. Uma grande depressão acontece quando esse sistema emocional se avaria, portanto, trata-se de uma deficiência de adaptação.

Bem, como podemos viver melhor com a depressão?

Solomon lembra que as pessoas que desejam esquecer sua depressão e obliterar seus episódios depressivos são aquelas que mais se sentem aprisionadas por esse mal. Ele recomenda que as pessoas aceitem a depressão como parte de si mesmas:

“Valorizar a nossa depressão não impede uma recaída, mas pode alertar para uma recaída, e até mesmo tornar a recaída em si mais fácil de tolerar. Eu aprendi com a minha depressão o quão grande pode ser uma emoção, e descobri que aquela experiência me permitiu experimentar emoções positivas de uma forma mais intensa e focada. Acho que, apesar de odiar ter estado deprimido, encontrei uma forma de gostar da minha depressão. Gosto dela porque me obrigou a encontrar e agarrar-me à alegria.”


Para saber mais sobre as experiências de Andrew Solomon com a depressão, leia seu livro intitulado O Demônio do Meio-Dia, eleito um dos cem melhores livros da década de 2000 pelo jornal The Times, vencedor do National Book Award e finalista do Pulitzer.

Leia também: Andrew Solomon e as revoluções por identidade.

Assista a palestra de Andrew Solomon:

Imagem de capa: Reprodução

Eduardo Ruano

Escritor e revisor. Eu me considero uma pessoa racional, analítica, curiosa, imaginativa e ansiosa. Gosto de ler, ouvir música, assistir filmes e séries, beber e viajar com os amigos. Estudioso de filosofia, arte e psicologia. Odeio burocracias, formalismos e convenções. Amo pessoas excêntricas, autênticas e um pouco loucas, até certo ponto. Estou sempre buscando novas inspirações para transformar ideias em palavras.

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