Um fenômeno interessante que a modernidade trouxe consigo: a idealização do passado.
Pois bem, tentemos exemplificar com um filme: Meia-Noite em Paris. Gil (interpretado por Owen Wilson) é um roteirista americano de passagem por Paris, que acaba viajando no tempo e visitando a Paris em sua “Época de Ouro”, nos anos 20. O protagonista que, de fato, tem uma predileção pelo passado, acaba conhecendo figuras importantes, como o pintor Salvador Dali e o escritor T.S. Eliot.
Sem mais spoilers, o filme de Woody Allen parece ter a intenção de tocar exatamente nessa nostalgia característica do ser humano, nessa tendência que temos a supervalorizar o passado, em detrimento do presente.
Quem nunca ouviu alguém lhe dizer que nasceu na época errada ou que os anos 60, 70 ou 80 eram muito melhores? Essas são falas recorrentes mesmo entre os mais jovens. E este sentimento se aplica também a nossas vidas. Queremos voltar ao nosso tempo de faculdade, ao nosso ensino médio, temos um desejo de reviver a nossa infância e de revisitar nossa juventude. Afinal, o que há de tão especial no passado?
“Nostalgia é negação. Negação do presente doloroso” diz Paul, personagem do filme, em uma das cenas. Seria, então, esse sentimento nostálgico do ser humano uma tentativa de fuga de um presente não satisfatório? Fica a questão.
Parece-me que estamos transformando o passado – que deveria ser uma bagagem histórica e cultural nossa – em um refúgio fantástico, onde nossos sonhos podem se tornar realidade, estratégia esta que nos faz ignorar o presente. Talvez, pior, deixar de construir um futuro.
E não para por aí. O culto ao passado também nos priva da criatividade, da inovação, da mudança. Priva-nos da capacidade de aceitação do novo, do moderno, do diferente e do estranho. Nesta perspectiva, a valorização de antigos hábitos, costumes, paradigmas e valores, por vezes nos estagna e limita nossa capacidade de fazer novas descobertas, de olhar o mundo de uma outra (nova) perspectiva.
Pois é, o novo sempre vem! Apesar de se mostrar um importante professor e indispensável biblioteca de memórias nossas, o passado tem nuances e armadilhas. Fique de olho, pois, como já dizia o queridíssimo Belchior: “precisamos todos rejuvenescer”; e esse tal de “passado é uma roupa que já não nos serve mais”.
Imagem de capa: cena do filme “Meia Noite em Paris”
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