O telefone tocou algumas vezes naquele dia. Ela resolveu, custosamente, atender e do outro lado uma voz sussurrou: Por favor, perdoa-me. Perdoa-me por tudo que eu te fiz.
Ela tentou explicar que não guardava rancor, que tinha aprendido com o tempo que rancor é uma coisa ruim que come a gente por dentro.
A pessoa insistiu e perguntou de novo: Perdoa-me?
Ela disse que não estava ressentida ou com raiva, mas que ela perdoaria o ligante se isso fosse aliviar o peso da consciência dele.
A pessoa agradeceu e desligou o telefone. Prometendo mudar. Prometendo fazer tudo diferente. Mas ela sabia que a mudança era um processo e não um evento. Que as palavras muitas vezes se antecipam, precipitadamente, às ações. Que só o tempo diria da mudança.
E ela ficou pensando em como as coisas tinham chegado naquele ponto. Em como aquela pessoa parecia não estar bem, mas também em como ela parecia precisar do seu perdão como uma pomada calmante para aliviar a dor de uma queimadura de sol. Como se o seu perdão fosse algum tipo de alívio momentâneo que não garantiria, necessariamente, alguma mudança efetiva contra futuras insolações.
Depois disso, andando pelas ruas, as pessoas passaram a pará-la e a dizer, com tapas em suas costas, que tinha sido ótimo ela ter mudado de ideia. Que era muito bom ela ter voltado atrás.
Ela percebeu então que muita gente confunde perdão com aprovação. Ela nunca aprovara o que a pessoa da ligação fizera. O seu perdão foi apenas um sinal de que ela havia superado aquilo. Seguido em frente. Feito sua vida. Curado com amor todas as suas feridas. Não um sinal de que ela tinha de alguma forma aplaudido o que aconteceu no passado ou que ela pretendia colocar aquela pessoa de volta em sua vida, assim como antes.
Ela não carregava em si qualquer tipo de arrependimento. Não tinha se curvado às coisas erradas. Não tinha se equivocado ao se afastar. Não foi precipitada em proteger-se confiando em pessoas verdadeiras e leais.
Não, ela não tinha voltado atrás com aquele perdão. Ela tinha dado passos à frente.
Em sua cabeça, perdoar era como desatar nós. O perdão que ela havia concedido desatou o último nó que a ligava àqueles tortuosos dias. Agora a maturidade lhe dava a certeza de que, apesar de ter sido julgada de forma leviana no passado, por quem observava tudo de fora, tinha seguido, acertadamente, a sua verdade e protegido zelosa a sua integridade.
Agora o que ela merecia era paz. Não queria comprar brigas, postular hipóteses, comprovar teses. Queria continuar sendo ela mesma, caminhando com os próprios pés e construindo seu caminho. Seguindo em frente, sempre em frente, perdoando sim, mas sem pensar em voltar atrás.
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Atribuição da imagem: Pexels – pixabay.com – CC0 Public Domain.
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