‘O perigo não é que a IA nos destrua. É que ela nos deixe loucos’, alerta cientista da Microsoft

Enquanto muitos temem que as ferramentas de inteligência artificial irão dominar o mundo e roubar empregos, Jaron Lanier, um cientista controverso da Microsoft e um dos criadores da realidade virtual, mantém uma visão divergente sobre o assunto. Em uma entrevista ao The Guardian, ele expressou sua discordância com o próprio termo “inteligência artificial”.

“Trata-se de um termo muito apelativo. Toda essa ideia de que existe uma inteligência artificial, e de que ela é superior à inteligência humana, não faz o menor sentido”, diz Lanier. “É como dizer que um carro corre mais do que um atleta. Claro que corre mais, mas nem por isso chamamos o carro de ‘atleta artificial’. São habilidades diferentes, que não podem ser comparadas.”

Aos 62 anos, Lanier é um cientista, filósofo, escritor e artista que sempre criticou abertamente os efeitos negativos da tecnologia. Conhecido por seus livros “Dez Argumentos para Você Deletar suas Redes Sociais” e “Você não é um Gadget”, ele argumenta que as redes sociais prejudicam as conexões humanas e representam uma ameaça à democracia. Ao contrário de muitos, Lanier não teme que a inteligência artificial resulte em milhões de pessoas desempregadas.

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Jaron Lanier é um cientista da Microsoft, além de escritor e artista — Foto: JD Lasica, CC BY 2.0 <https://creativecommons.org/licenses/by/2.0>, via Wikimedia Commons

“Para mim, o perigo é que usaremos essa tecnologia para nos afastarmos e nos tornarmos incompreensíveis uns para os outros, até o ponto em que ficaremos insanos, sem o entendimento de quem nós somos e sem interesse suficiente na humanidade para sobreviver. Então a IA vai nos destruir, sim, mas por meio da insanidade.”

Segundo Lanier, à medida que a tecnologia se torna cada vez mais sofisticada, aumenta o risco de nos causarmos danos, e, portanto, temos uma responsabilidade maior em preservar nossa sanidade. Ele acrescenta que os seres humanos foram transformados em produtos, destacando como o capitalismo mudou a forma como somos vistos e valorizados. “Queríamos coisas de graça (informação, amizades, música), mas o capitalismo não funciona assim. Então nos tornamos o produto – nossos dados vendidos a terceiros, para que eles possam nos vender mais coisas que não precisamos”.

Lanier defende que bots como o ChatGPT da OpenAI e o Bard do Google podem trazer esperança para o mundo digital. Antes do lançamento dessas ferramentas, os algoritmos de IA eram usados apenas para filtrar as informações que chegavam até nós através das mídias digitais, o que, para o cientista, nos tornou preguiçosos e desinteressados. “Em vez de passear por livrarias ou ficar horas vasculhando lojas de discos, passamos a ser alimentados por esse funil que outra pessoa controlava.” Ele também argumenta que os diversos caminhos de resposta da IA generativa ao menos nos dão mais opções de escolha.

A respeito do impacto dos Chatbots no mercado de trabalho, Lanier diz que “podemos agir de duas formas. Uma é que fingimos que o bot é uma pessoa, e, para manter essa fantasia, esquecermos que quaisquer textos de origem usados ​​para compor aqueles textos. O jornalismo seria prejudicado com isso. A outra maneira é você descobrir quais são as fontes daquelas informações, e trabalhar lado a lado com a IA. E, nesse caso, um mundo muito diferente pode se desenrolar, onde, se um bot confiar em seus relatórios, você receberá um pagamento por isso. Haverá um senso compartilhado de responsabilidade e tudo funcionará melhor. O termo para isso é dignidade de dados.”

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Redação Conti Outra, com informações do Época Negócios.
Foto destacada: Reprodução.







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