Marcel Camargo

O pior castigo de certas pessoas é ter que aguentar a si mesmas o dia todo

Tem gente que parece nuvem, que chega sempre para nublar o dia, estragar a praia, o churrasco, a piscina. Carregam o “efeito gangorra”: quando se sentam, todo mundo se levanta. Gente chata pra caramba, que não consegue ser agradável nem por um minuto.

Tem gente que atrasa a vida da gente, pois somente enxerga o lado negativo de tudo, antecipando toda desgraça que poderá ocorrer – se ocorrer. Preveem tempo ruim, congestionamento, traição, decepção, cara contra o muro. Preveem sempre o fim das coisas, o término do relacionamento, da amizade, do contrato, do emprego, do sorriso.

Tem gente que reclama de tudo e de todos. Nada nunca está bom, ninguém nunca é legal, nenhuma bebida relaxa, nenhuma comida contenta. Lamentam dores pelo corpo, tempo perdido, falta de grana. Lamentam o que não fizeram, o que não disseram, o que nunca será possível em suas vidas.

Tem gente que sempre é o centro de tudo, que já passou por todas as experiências possíveis, já sentiu todas as dores do mundo, já fez cirurgia até no lóbulo da orelha. Se falamos que estamos com alguma preocupação, prontamente puxam a conversa para si, expondo algum sofrimento deles que sempre é muito pior do que o que estamos sentindo.

Tem gente que ironiza tudo, fala com sarcasmo, apelida, faz gracinha sem graça, mexe com quem não deveria. Procuram alguma característica do outro para transformar em chacota, riem de quem estiver por perto ou nem tão perto assim, mas nunca riem de si mesmos. Zombam de tudo e de todos, sem se importar com os sentimentos de ninguém.

Tem gente que trata mal os outros, como se o mundo estivesse ali para servir e bajular seu ego. São rudes com vendedores, com garçons, com frentistas, com colegas de trabalho. Humilham seus empregados, seus subalternos, humilham quem estiver abaixo de seu poder hierárquico. Destratam, ofendem, agridem.

Tem gente que só sabe falar mal de qualquer um, especialmente de quem não estiver por perto. Fofocam sobre familiares, amigos, conhecidos. Fofocam em casa, no trabalho, na escola, na rua. Maldizem, destilam veneno, xeretando sobre tudo o que não é de sua conta.

Teve um tempo em que eu ficava triste e até me deixava levar pela negatividade alheia. Hoje é diferente. Hoje eu faço de tudo para que não joguem em mim lixos que não são meus. Às vezes, eu ainda me chateio com algumas pessoas, mas daí eu lembro que o pior castigo delas é terem de se aguentar vinte e quatro horas por dia. Já Pensou?

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Photo by Rene Asmussen from Pexels

Marcel Camargo

"Escrever é como compartilhar olhares, tão vital quanto respirar". É colunista da CONTI outra desde outubro de 2015.

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