O poder das histórias, por Kelly Shimohiro

Por Kelly Shimohiro

A literatura é uma arte adorável, porque ela ajuda você a viver. Histórias não são passatempos banais, que lhe servem de distração e nada mais. As histórias revelam o que há de mais profundo e verdadeiro no espírito humano.

E isso não é conversa fiada para superestimar o valor da literatura. É uma constatação do significado que as histórias exercem no imaginário da humanidade.

Tudo começou com a oralidade. As conversas em volta da fogueira. A necessidade de contar e inventar. E criar e levar as mentes para fora da realidade. Ou pelo menos para uma realidade diferente.

Como defende Crhistopher Vogler, em A Jornada do Escritor, uma grande história tem imagens profundas arquetípicas, compartilhadas e entendidas por todos nós, numa dimensão atemporal. O que significa que enfrentamos os mesmos dramas dos heróis e heroínas dos livros que lemos. E dessa forma, nos identificamos com eles. Experimentamos com eles novas buscas e desafios. Literalmente, voamos para outros mundos fora da nossa própria realidade. Depois disso, voltamos para casa acrescidos, ampliados em experiências e recursos para vivermos nossas próprias vidas.

É fácil observarmos isso. Se lemos um drama, que ressalta questões confusas da existência adulta e se estamos nessa mesma fase, observamos o que acontece com o personagem, torcemos por ele, nos envolvemos porque se trata também da nossa vida. E dali, tiramos novas formas para lidar com velhas questões.

Se mergulhamos em um envolvente romance, nos entusiasmamos porque queremos paixão na nossa vida, queremos viver uma história excitante como aquela. Também desejamos amar e experimentar toda essa aventura. E podemos sair em busca.

Temas como lealdade, supremacia, força, justiça povoam grandes épicos de fantasia. Não acreditamos naqueles super-heróis, mas admiramos o senso de justiça e a lealdade que exalam e queremos isso para nossa vida também.

A literatura nos transforma e nos oferece uma possibilidade encantadora de experimentar muitos sentimentos, muitas sensações… e então, transpormos tudo isso para o mundo real, pois é aqui que vivemos.

Ernani Ssó, talentoso escritor gaúcho, ressalta que uma boa história é misteriosa e que isso atinge em cheio o leitor. (A vida é um mistério!). Afirma também que a leitura

não é só uma operação da razão. Também é uma operação dos instintos e dos sentidos. Uma história boa nos arrebata por isso, confundimos nossos próprios sentimentos com os do personagem.

Em um personagem encontramos nosso medo da morte. Em outro, nossa confusão em escolher um rumo para a vida. Nos identificamos. Nos trabalhamos, mesmo sem perceber.

Nossos aspectos sombrios também são espelhados nas histórias. E com isso temos a chance de iluminá-los ou fazer um acordo com eles. Todos temos eles conosco. Que bom podermos vivenciá-los sob a pele de um personagem de algum livro.

O autor não precisa se preocupar com mensagens ou recursos pedagógicos. Isso é uma grande bobagem. História é imaginação e criatividade. É isso o que envolve o leitor. A chance de viver algo que fala diretamente com seu espírito, com suas necessidades humanas.

Clarissa Pinkola Estés, a consagrada escritora de “Mulheres que correm com os lobos”, aponta o poder curativo das histórias. Nesse sentido, ela é um bálsamo para nossas vidas. Nos misturamos a elas e dali tiramos o remédio que precisávamos para melhorarmos a nossa vida. E isso é uma coisa estupenda!

A leitura é uma prática excepcional. Além de nos ajudar com nossa própria vida, nos fazer viajar em mundos criativos, nos emocionarmos com os mais variados desfechos; ela trabalha nossa linguagem e nosso conhecimento. Precisamos de mais argumentos para fazer disso uma prática cotidiana?

Bem, eu não. Porque ler já me salvou em muitos momentos. Já me tirou de dias tediosos. Já me fez mudar cursos de algum projeto. Já me divertiu. Já me deu a chance de sentir uma porção infinita de sensações… Já me fez tomar atitudes diferentes. Já me fez pensar sob outro prisma. Já me fez sonhar e ver que é possível.

A literatura é uma ação poderosa na nossa vida. Portanto, não tenho mais nada a dizer a não ser: LEIAM, LEIAM E LEIAM PARA SEMPRE!!

Cena do filme Hugo Cabret

Nota da página: Reprodução realizada com a autorização da autora.

Nossas matérias sobre educação também contam com a parceria e divulgação da página Educação como prática da liberdade, um espaço sempre indicado por nós.

KELLY SHIMOHIRO

“Tudo é um ponto. E o ponto é você!” Autora de “O Estranho Contato”.

Para mais textos visite o blog Irmãs de Palavras

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