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“Vou escrever uma coisa que eu não sei o que, justamente para ficar sabendo. E que só eu posso me dizer, mais ninguém” disse Fernando Sabino.
Eis uma boa justificativa para a arte ser terapêutica. A autodescoberta. Através da arte (nesse caso, a escrita), tornamo-nos capazes de fazer descobertas sobre nós mesmos.
A linguagem artística é uma ferramenta importante para a promoção de autoconhecimento, essa capacidade de ver e conhecer a si mesmo que, por sua vez, advém do autodistanciamento, conceito do renomado psiquiatra judeu Viktor Frankl. O autodistanciamento diz respeito à prática de se distanciar de si mesmo.
Ao ler um poema meu, por vezes, descubro algo, entre as palavras, que disse sem perceber. Ao observar minha pintura, vejo parte do meu ser que se esconde entre as cores. Ao ouvir minha música, sou capaz de ouvir, também, o canto de minhas próprias emoções. Ao externar o que sou, sou capaz de apreender-me e, consequentemente, de me avaliar melhor.
A arte é também refúgio, porto seguro. Abrigo-me na poesia de Drummond, quando ninguém mais é capaz de me entender. Escondo-me entre os filmes de Woody Allen, quando não tenho a quem recorrer. Visto-me com a música de Chico, quando não tenho a que mais me agarrar.
A arte é volúvel. Está sempre aberta à interpretação de quem nela mergulha. Está à mercê, não necessariamente do artista, mas daquele que a aprecia. É possível, portanto, encontrar-se na arte do outro. Por isso, é frequente também nos refugiarmos na arte uns dos outros.
Ah! A arte é terapêutica, por guardar consigo aquilo que nos transborda: a emoção, o afeto, sentimento em seus limites. Danço, até que toda a minha tristeza e decepção se dissipem. Toco meu violão, até que o choro e a angústia que arranham minha garganta desapareçam. Atuo com efervescência, até que aquela dúvida e ansiedade cruéis me deixem. Desta perspectiva, a arte é também calmaria.
E de onde emana todo esse poder da arte?
Simples. Às vezes, o discurso racional que somos obrigados a adotar cotidianamente não abarca tudo aquilo que sentimos. A arte está nessas brechas que não conseguimos preencher com nossa – tão superestimada – razão. Leonardo Da Vinci tinha plena consciência disso: “A arte diz o indizível; exprime o inexprimível; traduz o intraduzível”.
É por essa e outras que a linguagem artística pode ser considerada um eficiente ansiolítico alternativo, um confortável abrigo para nossas angústias e um poderoso instrumento para autoconhecimento.