Você já viu aquelas pessoas que falam sozinhas na rua, gesticulando enquanto caminham, como se estivessem fazendo um discurso para uma platéia que só elas conseguem ver?
Já né? De vez em quando a gente encontra um exemplar confuso e amalucado no caminho.
E seu eu te disser que a diferença entre eles e nós, é apenas que eles dizem em alto e bom som o que nós pensamos em silêncio?
Pode reparar. Essas pessoas via de regra não falam nenhuma incongruência, apenas emendam uma coisa em outra coisa, sem uma sequência lógica.
Elas “pensam” em voz alta e manifestam a livre associação. O que as torna “malucas” não é a livre associação, é a exposição em alta voz da livre associação.
Os malucos extravasam o pensamento desconexo, os “normais” o guardam dentro da cabeça.
Nos “normais” o potencial para a maluquice se manifesta e é reprimido, mas, em compensação, é possível amalucar o tempo todo quando se deixa o pensamento correr frouxo e sem fronteiras.
Esse é o padrão de consciência coletiva que herdamos dos nossos antepassados, e que escraviza a humanidade.
É um padrão que foge do “agora”. É como se o momento atual não tivesse nada de interessante para ser vivido, e precisássemos buscar refúgio na fuga do pensamento que invariavelmente nos leva para longe do lugar onde estamos agora.
Muitas pessoas vivem desse jeito, mas ninguém conta. E se bobear, ainda nega.
É possível que só se deem uma trégua quando durmam, e é possível que vivam sem terem consciência do fato, crendo que esse é o padrão normal de pensamentos.
Segundo pesquisas científicas, obter plena consciência do padrão saudável de pensamentos é uma necessidade ignorada pela maior parte da humanidade.
Quando se tem consciência, metade do problema já foi resolvido. A outra metade depende de treino. Analise o que você pensa, e a sequência em que pensa, o que pensa.
Se de céu você emenda com pássaro, e de pássaro com nuvem, e de nuvem com tempestade, e de tempestade com janela, e de janela com a diarista que não limpou a janela, e segue nessa toada sem lógica até perceber, duas horas depois, que voltou a olhar para o céu porque nada na terra te levou a lugar algum, então você não é muito diferente do maluco da esquina, embora ninguém mais saiba disso.
O pensamento não pode ser um macaco que macaqueia de um galho para o outro, de forma a te consumir sem que você assuma a consciência e a direção do seu pensar.
Pare! Adote a respiração consciente e pratique a presença. Esteja presente com seus pensamentos no lugar onde você se encontra agora.
Se o pensamento “fugir” faça a recaptura. Tente isso, sempre que se lembrar.
Estar presente é estar concentrado naquilo que vc faz, não necessariamente como uma tarefa, para atingir um determinado fim, mas para absorver o momento.
Você pode lavar a louça, por exemplo, não apenas para que a louça fique limpa, mas para sentir a água, a espuma, o seu corpo em pé ao lado da pia, a textura da esponja, e todos os estímulos que essa tarefa lhe proporciona.
Enquanto se concentra no “agora” o seu pensamento “não voa”. E se voar, que seja para saborear o voo com toda a força da sua consciência. Voe, mas voe no controle do seu avião.
Não entregue para o “macaco”, para a mente inconsciente, a tarefa de viver por você. Treinar a prática é uma semente para a iluminação interior. Quanto mais prática, mais presença.
Se este texto despertou a sua atenção, procure bons autores que possam lhe esclarecer ainda mais sobre a prática da presença. Não é um caminho fácil e sem tropeços, mas é o único caminho que pode nos levar ao descanso de uma vida plena.
Imagem de capa: Microgen/shutterstock