Acabou! “E agora, José? E agora, José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora, José? E agora, você?” (Drummond).
Temos um grande problema em aceitar o fim das coisas. A saída da casa dos pais, o término da faculdade ou assumir que o relacionamento chegou ao fim, são alguns dos fins que relutamos em aceitar baseados em um único medo: a solidão.
De qualquer forma, com ou sem a nossa aprovação, as despedidas acontecem. E, no caso de relacionamentos amorosos, indiferente dos motivos que levem ao término, a separação sempre vem acompanhada de sofrimento.
Por medo da solidão ou do arrependimento do término, fingimos não enxergar os explícitos sinais que o relacionamento dá ao longo dos anos. Mas, a verdade é que, no fundo, sabemos que o fim aconteceu quando os pequenos cuidados foram deixados de lado e não quando um dos dois abandonou a relação.
A gente percebe quando a cama esfria, quando o diálogo vira monólogo e quando a presença não é mais sentida. A gente sempre sente. Mas deixa-se enganar por medo da solidão, por medo de enfrentar a vida sozinho ou, pior, por não ter respostas para as inconvenientes perguntas “por que vocês não deram certo?”
Terminar um relacionamento não é uma das atitudes mais agradáveis do mundo, já que significa sair da zona de conforto e começar uma nova história. O grande problema está na supervalorização da situação, já que as pessoas parecem temer mais a infelicidade eterna do que acreditar em uma dor provisória.
Drummond, em toda a sua sabedoria, dizia que “a educação para o sofrimento evitaria sentí-lo com relação a casos que não o merecem” e o poeta estava, mais uma vez, certo. Se fôssemos capazes de selecionar nossas dores por importância, seríamos muito, muito, mais felizes.
Embora, no processo de cura, o coração traga à tona todos os momentos felizes vivenciados e tente transformá-los em bons, aumentando a saudade e fazendo-nos acreditar em uma possível reconciliação, é preciso focar na cura e entender que, para ter direito a um bom futuro é preciso, primeiro, estar disposto a esquecer o passado.
Sem drama, sem chantagens, sem mágoas. Aceitar que a relação deu certo até aqui, mas que seguirem juntos não é mais possível, é uma forma inteligente de amar. É entender que amor bom é amor próprio e que esse é o único amor que você não deveria temer perder.
Imagem de capa: Zoom Team/shutterstock