Ana Macarini

O que cabe dentro de um abraço?

Dores pequenas ou grandes, que podem ir de saudades, a corações partidos; de joelhos ralados a fracassos profissionais; de solidão involuntária à descoberta de uma traição. Qualquer uma dessas experiências dolorosas pode ser amenizada ou até mesmo curada pelo poder terapêutico de um abraço sincero.

Pessoas que se abraçam de corpo inteiro realizam muito mais do que um simples encontro físico, são protagonistas do transbordamento da alma, da mistura de anseios e vontades de amar.

Pessoas que se entregam ao poder curador de braços que acolhem, além de oferecer a si como conforto ao outro, ganham de volta a maravilhosa e benéfica energia de um coração grato e momentaneamente desarmado.

Durante o abraço, nosso organismo produz um hormônio chamado ocitocina; o mesmo hormônio que promove a união entre mãe e filho, desde a gravidez até a amamentação, evoluindo para os contatos pessoais como a criança, como estar com ela para cuidar, brincar, contar uma história, cantar para ela ou embalá-la ao colo.

A ocitocina tem relação com a fidelidade, o desejo sexual, a sensação de pertencimento e a quebra de padrões negativos que levam a quadros de ansiedade e tristeza.

 

Mas não vale aquele abraço engessado, dado apenas para cumprir uma função de social. Precisa ser aquele abraço que não tem pressa de acabar, que faz a gente ter vontade de esquecer o resto do mundo para se diluir no calor e aconchego de um outro alguém.

Estudos comprovam, inclusive, que a ocitocina é responsável por estruturar um sistema de proteção neurológica, capaz de inibir o envolvimento dos indivíduos com o uso de álcool e drogas. Além de ser determinante no enfrentamento das dificuldades advindas dos períodos de abstinência.

Abraçar é delicioso, é benéfico e é sinal de disponibilidade afetiva. Então, por que será que a gente anda economizando abraços?

Será que andamos com medo de nos envolver? Será que andamos sem tempo de sentir? Será que estamos demasiadamente distraídos das coisas simples e ocupados demais para investir em nossa saúde emocional?

Seja lá por qual motivo for, penso que seria uma boa hora para destrancarmos os abraços, liberá-los para além das nossas reservas e oferecê-los a quem amamos como quem oferta o mais caprichoso presente.

Dentro de um abraço cabe toda forma de afeto, cabe o silêncio confortável entre duas pessoas que se querem bem, cabe o suspiro de alívio por ter encontrado um lugar para aquietar a alma, cabe a manifestação genuína de acolhimento e entrega, cabe a aceitação do outro e o perdão.

Sendo assim, em seu próximo encontro com alguém que vale a sua amizade ou que desperte a sua bondade, tire o sorriso automático do rosto e em vez de estender uma mão reservada e incerta, abrace!

Imagem meramente ilustrativa: Cena do filme “Ghost”,1991.

Ana Macarini

"Ana Macarini é Psicopedagoga e Mestre em Disfunções de Leitura e Escrita. Acredita que todas as palavras têm vida e, exatamente por isso, possuem a capacidade mágica de serem ressignificadas a partir dos olhos de quem as lê!"

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