O que carregamos dentre da gente é muito mais. Não cabe em poucas palavras e sentimentos em metades. É algo parecido com a emoção do primeiro passo, da primeira felicidade compartilhada ou do primeiro gozo de amor. Não enfraquece, estagna e, muito menos, desaparece. É suspiro de vida pela manhã. É imersão de intensidade noite adentro. O que carregamos dentro da gente faz de nós seres breves, complexos e autênticos. Não somos sonhadores loucos, mas condutores do “de hoje em diante”.
Se o mundo gira conforme a natureza do universo, o que carregamos dentro da gente é a essência infinita dos astros. Carregamos amor porque escolhemos. De suas mãos acolhedoras, tiramos um todo que nos impulsiona, que nos modifica. Não encontramos um fim sem um começo. Não tiramos o pé sem entregarmos inteiros. Não desperdiçamos declarações sem endereçá-las apropriadamente. O que carregamos dentro da gente faz de nós seres urgentes, ativos e verdadeiros. Não somos amantes inconsequentes, mas transportamos carinhos necessitados de motivos.
Se a vida é um jogo de aparências, o que carregamos dentro da gente é a transparência de quem não nunca teve habilidade para jogar. Carregamos sinceridade porque não sabemos ser diferentes. Benditos os abraços apertados, os beijos molhados e as peripécias entre quatro paredes. Não fingimos prazer para agradar os indispostos. Não dividimos momentos sem estarmos presentes de corpo, alma e poesia. Não deixamos pontas soltas sem uni-las por um propósito. O que carregamos dentro da gente faz de nós seres ímpares, simples e atentos. Não somos impróprios para multidões, mas estamos ligados através de sensações que somam.
O que carregamos dentro da gente não tem nome. Não precisa tê-lo. Definições também passam longe de expressarem, com exatidão, essa força exponencial que levamos em sorrisos, desejos e conhecimentos. O que carregamos dentro da gente é um sinônimo a ser conjugado por gestos, dia após dia, independente daqueles que não enxergam os benefícios desse transbordar sereno, doce e excitante. O que carregamos dentro da gente? Tudo. E ainda assim, tudo é pouco.
Fotografia por Sarah K. Byrne
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