Imagem de capa: romualdi/shutterstock
Se há uma dura tarefa a cumprir, é a de deixar no passado o que pertence ao passado. Arrastamos o ontem como um troféu ponteagudo que, embora conquistado, nos fere a cada toque.
E desenrolamos o pergaminho do passado com uma insana riqueza de detalhes, utilizando todas as licenças poéticas disponíveis, porque até para a dor, romantizamos o quanto podemos. A piedade conquistada nesse momento nos alimenta, ainda que seja indigesta.
Todo mundo tem um passado, todo mundo já sofreu traumas, abandonos, rejeições. Há quem tenha sido largado por falta de amor, há também quem tenha sequer registrado a indiferença com que foi tratado. Há infinitos passados em cada um de nós.
As desordens da vida não são culpa do passado, que não deveria ser tão demonizado assim. A gente fala de passado como se fosse um maníaco insensível e insaciável. Mas o passado é o que somos.
Acabei de olhar para trás e esse momento já é passado, vivido por mim. É o que sou, do jeito que me virei, a maneira como olhei e o que entendi do que vivi.
O que eu passei, passou. Vivi coisas incríveis, mas comi muito capim também. E –surpresa- não ganhei o o passe livre para a felicidade e sossego no futuro. O passado é hoje, há um minuto.
A vida é uma dinâmica que não comporta esse excesso de bagagens e histórias. Pessoas, cenários, reações e certezas se alteram numa velocidade absurda.
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O saudoso passado arrastado ainda tenta ganhar o lugar do presente e sonha em interferir no futuro, como um tutor que tudo sabe porque tudo já passou. Mas o que ele sequer desconfia, é que além de passado, já foi ultrapassado pela vida que quer e sabe como conquistar o seu espaço.
De minha parte, fico com a empolgante tarefa de a cada dia, limpar o quadro, preparar os pincéis e a aquarela, porque o grande presente é fazer do passado um sábio aliado.
O que passei, passou.
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