Por Sérgio Felix
Apesar de todas as buscas pelo elixir da eterna juventude, até o momento ninguém conseguiu frear a roda do tempo e estancar os efeitos que a idade acarreta à vida.
Quando chega o medo de envelhecer, o melhor mesmo é refletir a respeito dos outros sabores que torna a existência tão prazerosa quanto a vitalidade física de outrora.
O medo de envelhecer, assim como todos os outros medos, tem como origem o medo do aniquilamento e da própria morte.
Quando pensamos no medo de envelhecer, pensamos ao mesmo tempo no medo das pequenas mortes que circundam o envelhecimento: a morte da vitalidade, do status, do poder, da identidade, dentre outras.
Os medos de um modo geral relacionam-se com o apego que cada um desenvolve no decorrer da sua vida. Normalmente uma personalidade narcísica apresenta mais dificuldades em encarar as mudanças naturais da vida.
Outro fator que contribui significativamente para o modo como encaramos o envelhecimento e, por conseguinte, a morte está naquilo que assumimos como crença pessoal e cultural. Hoje o culto à eterna juventude e as exigências sociais para que se atendam aos quesitos de beleza e poder ganharam uma evidente importância coletiva. Diferentemente de outros tempos e de outras culturas que tomavam a velhice como uma fase suprema da vida, repleta de sabedoria e de respeito aos ciclos da natureza.
Com a chegada da velhice surge também a necessidade de reedição dos antigos papéis que foram muito provavelmente exercidos durante décadas. Um deles é o papel de provedor e responsável pelo bem estar dos filhos. Mais que perder a companhia dos filhos, verificamos que há a ameaça de perder a sua função dentro da família. O que dizer a uma senhora que durante décadas cuidou com zelo e afinco dos seus filhos e se exerceu dentro desta importância? Como dizer a ela: “Agora os seus cuidados não são mais necessários”? Costumamos observar que muitas mães e pais tomam os cuidados dos netos, dentre outras coisas, como forma de manter a sua antiga posição.
É bem provável que a velhice possa aparecer com o que muitos consideram solidão. Isto acontece muito mais fortemente para aqueles que seguem olhando para trás, ou que negam o momento atual como de igual importância como qualquer outra fase da vida, tal qual a infância, adolescência e juventude.
A estética é a parte que explicita mais flagrantemente a chegada da velhice, mas outros fatores se somam, por exemplo, a sensação da “perda do tempo”. Para o velho, esta percepção da escassez do tempo é vivida de modo contínuo, por isso a estrutura mental que suporta o “plano de futuro” se diferencia do jovem. Em sua apressada conta, não há mais o tempo como recurso, o porvir… O fazer deve fincar raízes no aqui e agora. E nisso há normalmente duas reações: a ansiedade pode encontrar espaços e agravar a situação gerando um desmantelamento das ações; ou então a pessoa pode ser levada a aprofundar suas experiências no tempo presente, trazendo mais eficiência e prazer em tudo o que faz.
Há ainda o medo das perdas que envolvem o envelhecimento como o poder de mando e decisão, da virilidade, das relações sociais, da autoimagem e do próprio corpo. Neste último deriva-se o medo da autonomia e até de ficar numa situação de clara dependência, como as que se observa em quadros clínicos com severas limitações físicas ou de dependência financeira.
Se algumas vezes a velhice amedronta o velho, muitas vezes assombra também os mais jovens. Quando na família há alguém que não lida muito bem com a sua velhice, é comum percebermos que os demais membros se sintam igualmente intimidados. Afinal, é o completo desconhecido para quem é jovem; e, se um velho se sente desconfortável nessa situação, é porque algo existe aí a ser temido.
A rejeição à velhice é, em sentido mais amplo, a rejeição à morte e também à própria vida. Lutar desesperadamente para evitar a velhice é combater numa guerra sem esperanças de vitória. A angústia de lidar com um inimigo que cedo ou tarde sairá vencedor do combate pode levar a sérias implicações nas relações familiares e nas pessoas que convivem. Essa batalha é diferente de “cuidar da velhice”, procurando se sentir bem com os desafios e limitação que esta fase oferece.
De modo mais amplo a velhice se compõe das escolhas da mocidade. Não como um saldo aritmético, mas como um processo de construção do modo de ver e estar na vida em todos os tempos.
A velhice, tal qual preconiza muitas tradições, pode ser uma fase de pleno coroamento da vida: viver e estar plenamente presente em tudo o que faz – por si mesma esta medida já isenta de muitos desconfortos ligados a ansiedade e frustração. Essa mesma fórmula se aplica a qualquer idade.
É uma fase na qual as necessidades mais urgentes como de realização profissional, constituição familiar e financeira, estão arrefecidas. Para isso é preciso estar atento e disponível às mudanças que o fluxo da existência imperiosamente conduz. Ter a consciência de que na velhice, se há perdas de muitas estruturas, há também o ganho de muitas outras condições. A sabedoria e a mestria em diferentes orbes do conhecimento humano, em conjunto com a experiência acumulada ao longo dos anos, são fatores otimistas para quem olha a velhice dentro de uma perspectiva atuante e significativamente prazerosa.
Olhar para o passado e para o vazio deixado pelo que devia ter existido, mas que não aconteceu, é um caminho certo para a tristeza, mágoas e frustrações. Olhar para um futuro incerto, tentando equalizar e compensar as “dívidas” que porventura tenha do seu passado, também pode levar a quadros de ansiedade e inquietações. O melhor e mais seguro momento, por mais clichê que isso pareça, ainda é o PRESENTE. E na velhice, esta lição ganha contornos muito mais nítidos e reais.
Nota da CONTIoutra: O texto acima foi publicado com autorização do autor.
SÉRGIO FELIX
Coordenador do Solar Espaço Terapêutico
Especialista em Teorias e Técnicas em Cuidados Integrativos (UNIFESP)
Pós-graduado na USP.
Desenvolve pesquisas a respeito de medicinas tradicionais e práticas de cura espiritual.
http://www.solarespacoterapeutico.com.br
www.psicologosergiofelix.com
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