“O que os homens falam” e o que as mulheres guardam…

Estou aqui meditando sobre algumas nuances da alma feminina. Recantos onde pouquíssimos são convidados a entrar, e onde mesmo os que têm permissão se perdem em curvas, TPM(s) e melindres.

Nunca entendi, por exemplo, alguém fingir orgasmo… Quem finge o gozo não goza!… Essa sempre me pareceu a lógica mais óbvia da vida. Tudo bem que gozar está longe de ser o único motivo que leva uma mulher a transar… dar, se dar ou fazer amor… É muito estrogênio envolvido. E conquista e carência e urgência e até… amor! Ou só vontade.

Se altruísmo que faz o parceiro feliz, ou jogo de cena em que se ganha uma casa ou se perde o ponto ou se tenta só empatar, fato é que simular prazer na cama, no carro ou no tapete da sala pode atender a vários interesses e pressões. De afeto ou de agrado. De paixão ou de momento. De vaidade. Que atire o primeiro ai quem nunca deu uma viradinha de olho a mais. O engraçado é que muitos desses pensamentos me vieram enquanto assistia ao filme “O que os homens falam”, produção espanhola que se propõe a traçar um retrato das oscilações dos terrenos masculinos, mas que na medida em que desfiava seus medos e angústias na tela, me remetia ao modo como a mulher desde sempre os deixa confusos.

Não é para menos. Por virtude, anatomia e berço, meninas nascem com o dom de iludir que o Caetano cantou, e com toda a malícia e dor e delícia de ser… o que quiserem. Seu sexo é pra dentro, mas o suspiro pra fora, se assim permitirem…

Então fico pensando o que leva ao simulacro em 2016, onde o mundo anda louco e as pessoas livres. Ou nem tanto?… É que hoje em dia se muito pode ser falado ou cobrado e liberado, também tem muita amarra vendida como a beleza da vez. É muito trabalho pra uma ficada! E o universo feminino é ainda caro, custoso e às vezes doloroso… Requer tempo, salão e academia. Sê pra si ou se é pro outro, essa quase volta à infância numa ausência instaurada de pelos no corpo, por exemplo, pode até ser a estética do agora, mas também pode apontar uma certa artificialidade nas relações. Tudo certinho demais, enquadrado demais, liso demais, perfeito demais. Num cenário pronto para se fingir demais… Já dizia o ditado chinês (ou então alguma avó): tudo que é bom nessa vida, despenteia!

Outro dia vi o relato de uma moça que dizia que o esforço máximo que fazia para um encontro amoroso, era proporcional ao de um homem em geral – que é tomar um banho e usar uma cueca decente. Isso porque entrevistou algumas dúzias para tirar uma média ponderada e meditada entre os que penteavam o cabelo e os que tiravam a monocelha. Decidiu, então, optar por uma linha mais sem preparo nos relacionamentos: depilação básica e boa lingerie. Disse que o resultado foi ótimo, com menos expectativas, e atraindo pessoas mais soltas, saborosas e divertidas. E sem fingimento nem na hora agá e nem no ponto gê! Foco pra tudo que for bem natural (“e fazer muito amor que amor não faz mal”).

No filme, que é dividido em pequenas histórias, em certo momento a segurança das mulheres, que seriam meras escadas para o drama de machos alfa, beta e mega encucados, acaba virando a estrela. Damas, donas, causas e efeitos de muitos porquês, enredam e traem, mas também fascinam.

Como na vida, educam e descartam, mas sempre entregam o coração. Mesmo que dali a pouco peguem de volta. Porque seja pelo cheiro ou pelo toque… seja pelo som – e mulher é muito auditiva – a química sempre manda muito. E contra ela não há argumento ou redenção. Só flor da pele e arrepio. E quando não há, ainda restam os improvisos múltiplos. Ou por a imaginação pra funcionar, porque é certo que menina pode… E pode. O ‘se deve’, porém, já fica por conta do tipo dos deleites que se quer ganhar, da abstração que se consegue manter ou das estrelas que se pretende ver. Ou ouvir…

Dito isso, fechar com Bilac cai bem:
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo,
Perdeste o senso! E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muitas vezes desperto.”
Quanto às mulheres… “amai para entendê-las”, só não espere saber tudo o que calam…

::: O título original, Una Pistola em Cada Mano, longa de 2012 do diretor espanhol Cesc Gay, sugere o fato do homem estar sempre a postos na vida… quando se trata da caça, quando se fala de sexo. Ele conta cinco boas histórias independentes… ou não… na verdade relatos de tormentos masculinos, mas também proposta para se pensar a condição do homem maduro contemporâneo. Não chega a ser um olhar pelo buraco da fechadura, descobrindo segredos inconfessáveis, mas fornece boas pistas a cerca de medos e fraquezas.

Talvez esse jeito de se desarmar e mostrar fragilidade, em contraponto ao estado de alerta constante que o gênero obriga, seja o que traz de melhor. Além de Ricardo Darin, Javier Cámara, Leonardo Sbaraglia e um ótimo time de atores espanhóis com toda a verve caliente que faz a fama, mesmo com cara de querendo colo. Filme muito bom, em que eu ainda volto pelo olhar todinho deles. Ou será que não… vai saber. :::

Paula Quinaud

Designer de Ambientes e Produtos, por profissão. Especialista em Arquitetura Contemporânea e Cinema, por interesse. Professora Universitária, por pura vocação. Mãe em tempo integral, por um amor imenso. Catadora de palavras, por necessidade absoluta.

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