O que podemos aprender com o bambu?- Fernanda Alcantara

Por Fernanda Alcantara

Este belo arbusto pode ser usado para diversos fins.
Seu uso vai da produção de papel à construção civil, tanto nas construções a prova de terremoto quanto em casas artesanais e ecológicas, passando ainda pela confecção de instrumentos musicais, móveis, artigos de decoração, instrumento para a prática de massagem terapêutica (bambuterapia) e até alimentos como é o caso do broto de bambu comestível, dentre outras coisas.
Toda esta versatilidade só é possível devido a características importantes desta planta: por sua resiliência, flexibilidade e força.

Não é de se estranhar que esta planta nos traga algumas reflexões importantes. Circula na internet um texto chamado “As sete verdades do bambu” onde são analisados alguns aspectos do bambu deixando ao leitor alguns pontos de aprendizado sobre a resiliência da planta. Mas, como o bambu é uma fonte inesgotável de possibilidades, muitas outras reflexões e analogias podem ser feitas. Afinal, assim como nós, trata-se de uma planta bastante versátil, sem deixar escapar que é de fato uma das plantas mais resilientes de flora. Portanto, vale a pena dedicar mais tempo ao aprofundamento destas reflexões.

Então, vamos lá explorar ainda mais o bambu e suas contribuições para a nossa vida:

Nosso crescimento e maturidade podem demorar um tempo para se mostrarem visíveis ao mundo.
Depois de plantada a semente do bambu leva 5 anos para que a planta fique visível a olho nu! Nestes primeiros anos após o plantio todo o crescimento do bambu é subterrâneo. É o momento em que sua raiz se estende vertical e horizontalmente pela terra preparando toda a estrutura que manterá o bambu em pé durante sua vida. Então, mesmo que para o mundo externo não apareçam os “seus brotos”, as suas raízes estão crescendo internamente para lhe dar suporte e te manter firmes ao longo da vida. Muitas vezes, é justamente assim que as mudanças se processam em nós. Os processos de amadurecimento geralmente se iniciam de dentro para fora. Em alguns momentos da vida é necessário que haja uma pausa para que este movimento intenso possa acontecer em nosso mundo interno. Assim como ninguém vê o que ocorre debaixo da terra nos primeiros 5 anos após semear o bambu, é muito provável que as pessoas ao redor nem sempre perceberão isto, porque por mais energia que este movimento intenso demande, ele acontece primeiramente no mundo interno, para depois se externalizar nos mais diversos comportamentos. Então, quando estiver nesta jornada de autoconhecimento e resgate de si mesmo, apenas dê o tempo necessário para que suas raízes se estruturem.

Precisamos de um bom alicerce para nos desenvolvermos plenamente.
As raízes profundas do bambu são muito difíceis de ser arrancadas. Geralmente, a proporção de altura que um bambu atinge para cima (da terra) é equivalente a que se desenvolve para baixo. Desta forma, ele constrói bem suas raízes, mesmo que ninguém veja o que está acontecendo e se estrutura de forma que, aconteça o que acontecer ele estará firme. De maneira semelhante, nossos primeiros anos de vida e a maneira como nossas vivencias contribuirão para nossa formação são essenciais para a estruturação das nossas forças e capacidade de resistir as adversidades da vida. Precisamos de raízes sólidas e bem desenvolvidas que nos apoiem nos momentos adversos da vida e nos deem segurança para um caminhar tranquilo durante a vida.

Uma aparência frágil não significa falta de resistência.
O bambu é um arbusto é extremamente resistente! Devido a sua firme estrutura é muito difícil arrancar um bambu. Entretanto, ele parece tão frágil, tão fino e sem galhos. Pois é! O bambu pode nos servir para refletir sobre imagens e aparências. Ele não tenta parecer forte para que outras plantas ou animais tenham dele outra percepção. Por esta ótica podemos pensar que quando alguém se estrutura e se conhece, mais deixa de se importar com as opiniões ou as adversidades que a vida impuser. Se for necessário esta pessoa se envergará, mas não se quebrará, independente do que achem ou deixem de achar. Muitas vezes confundimos fragilidade e sensibilidade com fraqueza, mas nem sempre essas características são equivalentes. Aliás, nossa força, não precisa incluir a dureza ou a rigidez, mas sim a capacidade de encontrar os recursos necessários para se estruturar e se desenvolver bem apesar das adversidades. Isto é ser resiliente!

Precisamos ser firmes em relação aos nossos propósitos.
O bambu cresce em direção ao alto. Lá está seu objetivo e aconteça o que acontecer é para lá que ele vai. Talvez você já tenha visto arranjos que fazem com o bambu onde ele toma forma de um espiral. Se você observar verá que aquele bambu está seguindo sua direção, contornando os obstáculos impostos e seguindo para alto. Ou seja, se nos mantemos focados em nossos objetivos podemos contornar os obstáculos, até nos desviar um pouco do caminho se for o caso, mas sem deixar de seguir para o nosso propósito.

Nossas marcas nos transformam e fortalecem.
O bambu é cheio de nós. São estes nós que dão forças ao bambu para ficar em pé porque ele é oco e os nós são o ponto de força e resistência da planta. Mas eles não tiram sua flexibilidade. Podemos olhar para os nós exatamente como são: nós! Os nós que damos em nossas vidas, as dificuldades que enfrentamos, os problemas que passamos e todas as dores que acabam por cercar a existência, ou alguns aspectos dela. Não é possível evita-los, mas podemos fazer como o bambu e seguir rumo aos nossos objetivos usando estes nós para nos fortalecer, sem nos fazer perder a flexibilidade.

Apesar de vivermos em sociedade nosso desenvolvimento é individual.
E por falar em nós, vem outra lição importante que o bambu nos permite aprender: eles estão sempre juntos. Mesmo que cada bambu cresça e se estruture individualmente ele nunca está sozinho. Sempre que você ver bambus plantados verá que há vários deles! Este aspecto do bambu pode nos despertar para o quanto somos responsáveis por nós, pela nossa estrutura, pelo nosso crescimento e desenvolvimento. Mas nem por isso estamos sozinhos! Sempre temos alguém ao lado enfrentando as mesmas adversidades, seja na família, no trabalho, nos relacionamentos, enfim, por onde passamos encontramos pessoas vivendo diferentes processos, mas dentro do que lhe é pertinente. Mudam as questões, mas os processos são parecidos: pessoas em busca de seus objetivos! Uma seguindo reto, outras não, mas sempre em busca de algo, mesmo que seja descobrir o que é este algo. Por isso, há que se cultivar a medida certa do apego, mas também da independência emocional. Mesmo juntos e nos apoiando uns aos outros, há que responsabilizar-se pelo próprio caminho.

Precisamos valorizar nossas sementes!
Por fim, vamos voltar a falar das sementes do bambu: Elas são raras e valiosas. Dependendo da espécie, o bambu pode levar uma quantidade de anos comparável a uma vida humana para dar sementes, o que torna suas sementes tão valiosas, dada a sua raridade. Ou seja, o bambu respeita seu tempo! Aprender a respeitar o tempo é dar valor às nossas sementes. O tempo é o que temos de mais precioso, é através dele que existimos e nós realizamos. Um dia que se vai não volta mais e isto pode parecer bastante óbvio, não é? Mas, o que você tem feito do seu tempo? A quem e para que ele tem servido? Cuide do seu desenvolvimento e do seu tempo, para cultivar boas sementes, seja para a sua própria vida, seja para a humanidade.

A resiliência que o bambu nos ensina vai além do envergar e não quebrar. Ele nos ensina a olhar para nossas raízes, nossas expectativas, força, coragem, objetivos, individualidade, coletividade e até para como nos vemos. Ele nos ajuda a entender que precisamos sempre fazer o exercício de olhar para dentro de nós mesmos e para a nossa relação com os outros e com o tempo. Ele nos auxilia a compreender que a nossa força também está em nossa fragilidade, em nossas marcas e que elas são essenciais para outras conquistas como saber esperar, saber se curvar, saber lidar com nossos nós e obstáculos que encontramos no caminho, valorizando nossas sementes. Ele nos ensina que com bases fortes, poderemos sempre seguir a diante e mais além!

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