Por Gustl Rosenkraz
Sabemos muitas coisas sobre nós mesmos. E sabemos normalmente o que é que nos faz bem ou mal e até mesmo o queremos ou não. É claro que não sabemos tudo, pois tem coisas mais difíceis de se reconhecer, e terminamos nos ocupando mais com isso, com as coisas que não sabemos, correndo atrás, procurando entender, o que é certo, pois precisamos nos conhecer, mas não é bom dedicar-se completamente ao oculto sem cuidar também do óbvio, do que já se sabe, do tanto que já conhecemos de nós.
Costumamos negligenciar a nós mesmos. Tem coisas que são claras, sobre as quais já refletimos, pensamos e repensamos ou sentimos e ressentimos, ou que simplesmente estão tão na cara que nem dá para não percebê-las. Mas preferimos não enxergá-las. E assim, seguimos na vida com coisas mal resolvidas, adiando ou ignorando completamente certos problemas, uns pequenos, outros médios, alguns enormes, fazendo de conta que eles não existem ou querendo acreditar que não há solução, por medo das consequências, por insegurança, por pressão externa, por condicionamento ou por conveniência, na verdade porque somos assim: perfeitamente imperfeitos.
Sabemos que precisamos praticar mais esportes e nos alimentar melhor, mas adiamos por falta de tempo ou outra desculpa qualquer, alguns de nós continuam fumando, mesmo sabendo que a vida encurta um pouco a cada cigarro, consumimos álcool em excesso, mesmo sabendo que a vingança do fígado é certa, permanecemos em relações, mesmo sabendo que o amor acabou, continuamos trabalhando para o mesmo patrão, mesmo sabendo que ele é um tirano ganacioso, comemos açúcar e gordura em demasia, mesmo sabendo que a vingança da balança não falha (a do coração e a do pâncreas menos ainda!), calamo-nos ou dizemos que sim, mesmo sabendo que seria melhor dizer não, sabemos que o portão precisa ser consertado, mas preferimos correr o risco do ladrão entrar de noite no terreno. E o pior de tudo: continuamos vivendo uma vida corrida, estressante, superficial e muitas vezes vazia, mesmo sabendo que seria urgentíssimo cuidar mais de nossa alma, de nossa mente, de nossos sentimentos, centrar-nos, buscando e encontrando um pouco mais de paz interior.
Sabemos de tanta coisa e sabemos que é preciso dar certos passos, que nos ajudarão a crescer e nos libertar, resolvendo algumas coisas que nos sobrecarregam, mas preferimos adiar para amanhã. Ou depois de amanhã? Ou talvez no ano que vem? Quando mesmo? E somos criativos, vinculando a decisão a ser tomada a acontecimentos, datas ou situações – “Vou parar de fumar no ano novo!”, “Vou me separar quando as crianças estiverem grandes”, “Vou repousar mais, assim que a obra na casa estiver pronta” -, e assim prosseguimos até o ano novo chegar, os filhos crescerem ou a casa ficar pronta, para pudermos então buscar novas desculpas e adiar mais uma vez.
Tanto faz quais os problemas que você evita enfrentar, tanto faz o que você sempre vive adiando, seja lá por qual motivo, desista de esperar pelo momento certo, pois ele provavelmente nunca chegará. Se você está sofrendo aqui e agora, é também aqui e agora que você deveria buscar as soluções e promover as mudanças necessárias em sua vida, para que você se sinta melhor, para que você seja livre e mais feliz. Sei que terminar uma relação não é a mesma coisa que consertar um portão, mas tanto faz o tamanho da coisa: adiar não é o caminho. O momento certo é sempre agora.