Imagem de capa: Alona Slostina, Shutterstock
Quando ouvi essa pergunta pela primeira vez, estranhei. Achei profunda, obtusa e incisiva demais. Intrusa demais. Nunca quis que nada fosse diferente. Tudo parecia perfeito. Analisei a interrogação por mais (longos) cinco minutos e respondi com uma arrogância contundente: Nada. Calei.
O silencio é, muitas vezes, desafiador. Pode significar consenso, dúvida, discordância, concordância, indiferença, importância, dor, satisfação, surpresa, tolerância, intolerância e pode também não significar nada.
Naquele momento eu só queria me livrar do peso da resposta. Normalmente uso o silêncio quando não quero causar conflito. Naquela noite, em mais um bate-papo de bar, não queria nada profundo. Só mais uma conversa fiada regada a doses de alegria. Nada precisava ser intenso ou íntimo naquela noite. Mas algo deu errado.
Caminhei ate o metrô repetindo a pergunta sem parar. A resposta insistia em calar-se. O cérebro tem o hábito e o fascínio de nos deixar sempre em nossa zona de conforto. Mas naquela noite, não.
O trajeto ate a estação Consolação tornou-se longo demais. Desviei a rota. A vantagem da Avenida Paulista é que ela nos possibilita oportunidades diversas em todas as esquinas, assim como a vida.
Parei em um café. Uma breve pausa como fazemos às vezes de nós mesmos. Foi ai que algo aconteceu. Da janela do café observei um estranho que estava deitado na rua. Tinha os cabelos anelados, barba mal feita e olhos (intensos) e azuis. Vestia uma calça jeans surrada e furada. Não calçava sapatos nem vestia camisas ou camisetas. Ele passava a mão no cabelo de forma calma e olhava para o nada. Fiquei a observá-lo por quase vinte minutos como uma criança encantada com o brinquedo favorito.
O que será que ele pensava? Qual sua história? Qual o som da sua risada ou timbre da sua voz? O que desejaria mudar na sua vida? Perdi-me nesses pensamentos e só retornei a realidade com o toque (inoportuno) no celular. Uma distração e ele foi embora como alguém que executa um trabalho e segue adiante. Voltei à questão inicial.
Paguei a conta e sai na esperança de encontrá-lo ou de achar a resposta para a fatídica pergunta. Nem uma coisa e nem outra. Nunca mais encontrei aquele homem. Confesso que penso nele todas as vezes que atravesso a Paulista. Será que ainda vive? Penso quais seriam seus medos e em que mundo perdeu sua alma quando olhou para o vazio de forma tão suave. O que ele ainda desejaria para sua vida? Alguns questionamentos ficarão sempre sem respostas.
Quanto a mim, pensei por meses sobre a pergunta. Debatíamos em mesas de bar, em conversas intermináveis via Whatsapp quando a insônia insistia em fazer amizade mesmo sendo uma intrusa indesejável.
Por fim, conclui que todos temos algo que gostaríamos de mudar, em determinados momentos. Às vezes um emprego, um relacionamento, a casa onde moramos, a cidade… Sempre haverá algo que nos motive a caminhar e buscar a tão sonhada felicidade. É natural.
Mas acredite, a felicidade sempre estará dentro de nós; por mais que a insistência em buscá-la fora persista, ela sempre estará em nosso coração esperando ser acesa como o interruptor de uma lâmpada que necessita ser acionada. E só assim, perceberemos sua existência em cada detalhe, muito próximo de nós, como um estranho de cabelos anelados, barba mal feita e olhos azuis que afaga os cabelos com ternura e leveza.
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