Por Juliana Santos e Lilian Marin Zucchelli
O que você quer ser quando crescer? Todos nós quando crianças ouvimos esse questionamento, não é mesmo? Mas, quando chega o momento da decisão, nem sempre estamos preparados para esse grande desafio que é a escolha profissional.
Houve um tempo em que a humanidade acreditava que seus talentos eram dados pelos deuses. Assim, estes seriam como um guia a conduzir o homem em seu destino. Vivê-los, portanto, significava cumprir o próprio destino e alcançar a sensação indescritível de ter compreendido o motivo e o mistério da própria existência.
Milhares de anos se passaram e a descoberta da própria vocação continua sendo um dos temas mais inquietantes de nossas vidas. Afinal,para que estamos aqui? Nossos talentos apontam para qual direção? Que profissão escolher diante de tantas possibilidades? Estes e outros tantos questionamentos preocupam e inquietam cada vez mais cedo a mente dos adolescentese suas famílias.
Geralmente, esta escolha se faz na adolescência, fase marcada pela transição entre a infância e a vida adulta. Se pudéssemos usar uma imagem para simbolizá-la seria a de um “Portal”. Dentro dele, o espaço é intermediário, sem muitas seguranças, e o ego vai flutuando hora para lá e hora para cá, e por isso as influências ganham tanto espaço.
As demandas são muitas: modificações na personalidade; experiências de autoconhecimento; mudanças corporais e hormonais; ampliação da visão de mundo; novas definições de identidade e papéis sociais; mudanças nas relações familiares; identificações com pessoas, ideais ou grupos; novas responsabilidades ea definição de uma profissão!
Tantas transformações simultâneas podem ser exigentes o bastante para gerar angústia e ansiedade. E, por isso, é comum que muitos adolescentes e suas famílias recorramà uma Psicoterapia ou à ajuda de um Orientador Profissional que lhes auxilie a “organizar a própria casa” para então se posicionar diante de um menu recheado de profissões.
A escolha profissional é mais um momento difícil, sofrido e sentido da vida do adolescente que progressivamente, interna e externamente, vem optando por algumas coisas e tendo que abrir mão de tantas outras. Ela não é um fato isolado, mas algo que se insere no todo da vida, intrinsecamente ligada à individualidade, à realização, aos sonhos, esperanças, fantasias, medos e amor. Neste conflito heróico em que se busca a confirmação da autonomia e a autoafirmação, o adolescente mergulha dentro de si mesmo, se confronta com suas questões pessoais, e então avança para uma escolha que lhe seja capaz de satisfazer a alma e não apenas o bolso.
Na contramão deste processo, a sociedade pós-moderna capitalista tem favorecido cada vez menos espaço para o contato do ser humano com as individualidades de sua alma. As exigências sociais, bem como as expectativas familiares nem sempre respeitam o tempo necessário para o adolescente fazer o seu caminho de escolha. Isso se confirma, por exemplo, quando buscamos uma escola de educação infantil para nossos filhos e vemos na campanha de marketing da instituição que o foco da educação é o vestibular.
Mas quem, lá pelas tantas da vida, não gostaria de sentir-se no lugar certo, feliz e satisfeito com seus talentos e interesses diante da vocação escolhida?
A família e a escola são os espaços privilegiados onde os adolescentes poderão encontrar-se. Inúmeras vezes segue-se o desejo de ser como a mãe, o pai, o avô ou algum outro parente com quem se identifica e que lhe toca os talentos no coração. Alguns professores tambémpoderão influenciar esta escolha já que são capazes de arrancar do aluno uma admiração que lhes favorece a formação da autoimagem através de uma relação de afeto, onde certamente haverá espaço para o diálogo, feedbacks positivos e críticas construtivas a respeito de seu desempenho nas matérias e na vida.
Um cuidado que precisa ser tomado é que os pais e familiares precisam estar atentos, para não projetarem em seus filhos suas expectativas quanto à carreira e sucesso profissional, baseados em suas próprias crenças e experiências pessoais passadas. Frases como: “Você tem que ser médico como seu pai, que já tem um consultório onde você poderá trabalhar!” ou “Nesta profissão você não vai ganhar dinheiro ou ser bem sucedido!” podem ser extremamente prejudiciais na medida que se fazem imposições ao adolescente sem considerar seus talentos e individualidades.
Seguir uma imposição que não realize a alma é sempre optar por abrir mão da própria vida, para viver a do outro. Mais cedo ou mais tarde, a vida deixada de lado voltará a bater na porta para cobrar o seu espaço. Sempre caberá aos pais a função do aconselhamento e cuidado, mas o lugar ideal será sempre o do lado e até de mãos dadas, mas à frente, nunca.
Há também a influência do grupo de amigos, onde todos estão na mesma situação. O jovem tende a identificar-se com seus pares e, muitas vezes, para ser aceito no grupo, adere à opinião dos mais “influentes”. Isso, normalmente não dura muito tempo e faz parte do processo de amadurecimento e da formação da própria identidade.
A escolha de uma profissão precisa ser feita com sabedoria e discernimento, pois caso contrário, as chances de fracasso ou de uma futura insatisfação profissional tornam-se muito grandes. Porém, vale lembrar que sempre nossa vida e personalidade, são dinâmicas! Deste modo, pode acontecer de escolhermos algo que nos realize por algum tempo, mas que depois, com as mudanças que vamos passando, essa opção não nos satisfaça mais. É hora de desatar o barco e partir para um novo cais!
A verdade é que não existe uma profissão certa ou errada, melhor ou pior a seguir, todas podem trazer prazer, sucesso e felicidade, desde que cumpra o papel de proporcionar à pessoa a realização no mundo de suas habilidades e talentos. Afinal, no quebra-cabeças da humanidade, toda peça é fundamental para a construção do sonhamos viver.
Neste tempo de escolha, o serviço de Orientação Profissional pode ser um recurso de grande valia para afinar a visão e afunilar as muitas possibilidades, já que quando tratamos de humanidade, não existem verdades absolutas. Através de um processo estruturado e orientado, o Psicólogo poderá favorecer o autoconhecimento através do uso de diversas técnicas e estratégias de ação.São atividades que auxiliam na reflexão sobreos sonhos e aspirações, sobre si mesmo e a própria história, sobre as possíveis profissões e expectativas em relação ao futuro e ao papel que se quer ocupar na sociedade.
Testes psicológicos, entrevistas, pesquisas de profissões, jogos psicopedagógicos, escuta analítica e outras técnicas,são ferramentas que possibilitarãoa reflexão e o autoconhecimento. Este processo poderá levar o adolescente a perceber que todas as respostas para as suas questões já se encontravam dentro dele, e que só precisava de ajuda para descobri-las.
Assim, muitos adolescentes e familiares que passam por este momento tão importante, podembuscar estratégias e soluções que auxiliem os que ainda não sabem ou têm dificuldades de decidir para onde desejam mirar as suas flechas. O caminho será sempre o que realiza o coração e lhe faz crescer em humanidade. Afinal, não há valor que pague a sensação de termos encontrado nosso lugar no mundo!
Passos da Orientação Profissional
1- Despertar
No consultório, através das entrevistas iniciais, o adolescente poderá revisitar a própria história, levantar e classificar suas múltiplas inteligências, competências, aptidões, recursos, valores e princípios.
2- Desbravamento
Baseando-se nos recursos que tem, o adolescente terá a oportunidade de analisar o mercado de trabalho, escolas, cursos e grades curriculares, a fim de ganhar conscientização e criticidade para sua escolha.
3- Indo à campo
O adolescente terá a missão de conversar com vários profissionais das áreas que mais lhe interessam para, pouco a pouco, afunilar as possíveis possibilidades de escolha.
4- Encerramento
Ao final, o adolescente deverá se sentir mais autoconsciente, confiante e criativo frente o caminho que se abrirá para a continuidade de sua jornada.
Autoria
Juliana Pereira dos Santos – Psicóloga, especialista em Psicologia Clínica Junguiana. Aprimoranda em Psicopatologia e Psicologia Simbólica pelo Instituto Sedes Sapientiae e Coach formada pela Sociedade Brasileira de Coaching. CRP: 06/ 108582
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