Você chegou naquele por do sol, lembra? Você conversava com ela, uma conversa leve, e seu sorriso tomava a conta de todo o salão. Era lindo, era um sorriso com os olhos e com o coração. Fiquei te observando de longe, fascinada por ti desde o primeiro segundo.

Você passou por mim na escada no dia seguinte, atrasado para o trabalho. Você mal me notou no corredor, mas seu sorriso, novamente tão encantador, encheu meu dia de esperança. Esperança de que, talvez, você pudesse me notar também qualquer hora.

Você foi transferido naquela noite de lua cheia. O luar iluminava tudo, inclusive o seu olhar quando, pela primeira vez, encontrou o meu. Você parou um segundo a mais em mim e, finalmente, me viu; Ali meu coração bateu forte, tão forte, tão forte, que eu quase deixei ele escapar pela boca.

Eu nunca tinha sentido aquilo, mas já tinha lido nos livros sobre sentimentos semelhantes. Falavam de amor, de paixão, e de um tal de amor à primeira vista que só existia, sinceramente, nos filmes. Eu reconhecia a teoria do que eu sentia quando eu te olhava, mas custei a acreditar que realmente eu pudesse ter tido a sorte de ter encontrado o sentimento mais puro e raro do mundo: o amor verdadeiro.

Eu tinha tanta vergonha de você, de te encontrar, de conversar mesmo sobre os assuntos mais banais. Até que decidi superar meus medos e, com a ajudinha e a coragem que só a vodka pode dar a alguém, fui até você tarde da noite, antes do seu trabalho terminar. Abri a porta da cozinha e você estava lá, lindo, terminando de limpar tudo para poder ir descansar. Lembra da surpresa quando me viu ali? Não éramos amigos, não tínhamos intimidade, mas eu apareci de repente, um pouquinho alterada, querendo te dizer que era você. Eu sentia que era você, mas eu não sabia como lidar com isso. Eu não sabia nem como começar nossa amizade, pra ser sincera.

Você lembra que eu voltei no seu posto, tarde da noite, no dia seguinte? E no outro? E mais um? E mais outro? Mesmo com vergonha, comecei a ajudar você para que terminasse mais rápido e pudesse ir pro seu repouso. Eu via seu olhar de canto de olho, tentando entender o que eu fazia ali e onde eu queria chegar. Eu queria ter respondido essa pergunta, mas eu também não sabia como responder. Só sabia que algo me puxava, todo dia, para mais perto de você.

Se eu fechar meus olhos, vejo claramente o primeiro beijo que você me deu. Foi urgente. Foi sem eu esperar. Foi o melhor gosto que eu já provei. Quando senti seu beijo, sabia que aquele era o beijo que eu queria receber pelo resto da minha vida.

Lembro como foi te conquistar depois daquele primeiro beijo. Todo dia um carinho novo. Uma lembrança no meio da tarde. Uma mensagem inesperada no celular. Encontros nos corredores, nas escadas, na academia, no seu trabalho, no meu, em todo lugar. Íamos jantar juntos no refeitório e, quando você me encontrava, seu abraço acolhia minha cintura como quem dizia “ela está comigo” e eu sentia borboletas na barriga aos 31 anos, só porque era você que fazia isso.

Todo dia um novo pôr do sol. Todo dia um novo nascer do sol. Todo dia a sorte de ter encontrado você. Todo dia um beliscão quando te via ao meu lado, compartilhando o melhor e o pior da vida comigo. Todo dia um sentimento que crescia mais e mais. Era incontrolável, e nós dois já não sabíamos mais o que fazer.

Lembro do dia que você terminou seu trabalho e teve que voltar para casa, me deixando para trás. Eu ainda tinha mais seis semanas até poder voltar para casa e te reencontrar, e quando eu te dei meu último beijo e me despedi, senti que tinham tirado o meu coração do peito. Voltei pr’aquele navio e não consegui mais trabalhar sem deixar as lágrimas escorrerem pelo meu rosto livremente. Sem você, os corredores ficaram vazios, as noites ficaram longas, os segundos doíam para passar. Eu passava dias esperando por uma mensagem sua e tinha que dormir em uma cama que ainda tinha seu cheiro e sua presença.

Lembro quando acordei, alguns dias depois, triste, doente, morrendo por dentro de saudades de você. Eu tinha um trabalho a terminar, mas eu sentia que a vida tinha sido tirada de mim. Sobrevivendo, recebi uma mensagem de uma amiga: “Vai para casa e corre atrás do seu amor, se é isso que você quer. Talvez ele te espere, talvez não. Não de chances para as dúvidas”. No mesmo dia, pedi demissão, peguei um avião e cruzei um oceano para encontrar você. Só fiz porque era você, e faria mil vezes, se em todas elas eu te encontrasse.

Quando te vi naquele aeroporto, depois de poucos dias de tanta agonia, desmoronei em seus braços e nunca mais sai dali. Naquele segundo eu entendi que o amor a primeira vista existe, mas é raro. Difícil de reconhecer, de acreditar, de compreender. Quando vi você, porém, todas as minhas dúvidas e crenças se transformaram no sentimento mais incrível que eu poderia sentir: o de te ter em minha vida, me dando a mão, me acompanhando em minhas decisões e me permitindo te acompanhar nas suas. Com amor, carinho e respeito. Com paciência, com prudência e com gratidão por ter e ser parte do seu caminho, de hoje em diante, enquanto caminharmos juntos.

É você. Desde o primeiro segundo e até o meu último suspiro. Te amo aqui, no sul, no norte, no Atlântico, no Pacífico e no Mediterrâneo. Por todos os dias que hei de viver.

Imagem de capa: patrisyu/shutterstock

Ana Carolina Faria Bortolo

Turismóloga e Administradora de Novos Negócios por formação. Escritora, pintora e dançarina por vocação. Planejadora de eventos, bartender, agente de viagens e vendedora por profissão. Garçonete de navio por opção. Vi o mundo e voltei, e de todos os rótulos que carrego na bagagem, só um me define bem: sou uma ótima contadora de histórias.

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Ana Carolina Faria Bortolo

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